2.6.09

Zemer e a música klezmer

Está acontecendo há alguns anos um renascimento da música klezmer (aquela que era tocada pelos músicos judeus da Europa Oriental em festas, judaicas e não judaicas) nos EUA e na Europa.



Entre nós, quem entende tudo do assunto é Mauro Perelmann, diretor musical, arranjador e violonista do grupo Zemer.

Agora, estamos torcendo para que ele consiga levar o Zemer ao Festival Multiculutral de Nova Scotia, Canadá, no fim de junho. Reconhecidos por sua excelência, os músicos do grupo são os únicos convidados brasileiros ao Festival, mas ainda não conseguiram juntar os recursos para as sete passagens (a estadia é por conta dos organizadores). Pessoas físicas ou jurídicas que quiserem participar desse empreendimento cultural podem escrever para mailto:maupe@terra.com.br Vejam nos vídeos ao lado que a causa, além de boa, é um prazer para os ouvidos...

Nos EUA, o gênero foi extremamente popular até os anos 1950, quando pareceu sucumbir, junto com o idish, à avalanche do sionismo e da cultura hebraica. Mas o mundo gira, a lusitana roda, e o Klezmer Revival empolga cada vez mais gente. Até porque é uma música que não estagnou, como nos informa Mauro Perelman:

"A música klezmer se deixa influenciar, assim como acontecia na Europa, pelos estilos musicais vigentes, como jazz, rock e world beat. Nos EUA, podem se contar cerca de 200 instrumentistas e grupos de tendências diferentes. Não se pode esquecer a participação do violinista Itzchak Perlman num projeto que virou CD, vídeo e show ("In The Fiddler's House"), tocando com vários grupos do Klezmer Revival, e que contribui muito para a popularização do movimento.

Na Europa, o klezmer se desenvolve principalmente na Alemanha. Há pelo menos 25 grupos formados por não-judeus. Na Hungria, o Dy Naye Kapelye fez uma pesquisa de campo junto a ciganos da região que sobreviveram à Segunda Guerra, antes da qual tocavam com judeus, e há o Budapest Klezmer Band.

Na Áustria, aparecem o Frejlech - na contracapa de seu CD lê-se "Nós tocamos música klézmer não só por interesse musical, mas também para preservar uma parte da cultura ídish, que foi totalmente destruída por nossos pais" -, o Narishe Tantz ( trio de acordeom, clarinete e tuba) e o Ensemble Klesmer Wien. Na Holanda, existem cerca de 20 bandas, entre as quais a Amsterdam Klezmer Band e a "Ot Azoy". E há ainda bandas em países como França, Itália, Dinamarca, Suécia, Inglaterra e Argentina".

Scholem Aleichem no Museu Judaico

Tevye, filme de 1939, restaurado, direção de Maurice Schwartz

Um dos maiores mestres literários da história do povo judeu, Scholem Aleichem (1859-1916), terá seus 150 anos lembrados no Museu Judaico no próximo dia 16, a partir das 18 horas, em programa duplo: conferência do professor Henrique Rzezinski e apresentação de contos pelo ator Leo Wainer.

O escritor é um fenômeno – fez e faz sucesso de público e crítica e continua aclamado e traduzido para dezenas de idiomas. Depois de séculos de tristeza e suspiros, Scholem Aleichem trouxe o riso e o humor à literatura em língua idish. É um riso ao qual não faltam lágrimas, e cujo herói mais importante e vigoroso é o coletivo, repleto de figuras emblemáticas como a de Tevie, o leiteiro, que trabalha, sofre, teme as alterações à tradição, discute com Deus...e se tornou um símbolo mundialmente conhecido graças ao musical da Broadway O Violinista no Telhado.

Os funerais de Scholem Aleichem, em 15 de maio de 1916, levaram milhares de pessoas às ruas de Nova York. Na sua lápide no cemitério de Cypress Hills, Queens, o epitáfio termina assim (tradução livre):

“E enquanto o público/ria, se esbaldava e pulava de alegria/ele sofria – e isso só Deus sabe --/em segredo, para que ninguém visse.
(Un davke demolt ven der oylem hot
gelakht, geklatsht, un fleg zikh freyen,
hot er gekrenkt — dos veys nor got —
besod, az keyner zol nit zeyen.
)

No seu testamento de dez pontos, o primeiro dizia:

"Onde quer que eu morra, não me deixem ser sepultado entre os aristocratas, os bem de vida, os ricos, mas sim entre a gente comum, os trabalhadores, o verdadeiro povo judeu, para que a lápide do meu túmulo honre os túmulos simples ao meu redor, e os túmulos simples honrem o meu, da mesma forma que a gente simples e honesta honrou, durante minha vida, o seu escritor”.

Espanha e judeus de Salônica: informações da Fundação Raoul Wallenberg



Rota de deportação


Cônsul geral da Espanha em Atenas entre 1944 e 1945, Sebastián Romero Radigales salvou mais de 500 judeus sefaradis de Salônica, entre eles 366 prisioneiros do campo de Bergen Belsen, que foram embarcados para a Palestina via Atenas. Essa pouco conhecida história de peripécias diplomáticas e pressões sobre o franquismo, resgatada graças à Fundação Raoul Wallenberg (http://www.raoulwallenberg.net/?es/salvadores), faz parte da série Revelações sobre el Holocausto, do jornalista espanhol Eduardo Martin de Pozuerlo.

A série, publicada no jornal La Vanguardia, foi premiada pela Fundação Raoul Wallenberg por conter informações inéditas, garimpadas nos arquivos nacionais do Reino Unido, em Londres, sobre o Holocausto e a Espanha. “A obscura política do franquismo em relação aos sefaradis e, paralelamente, o extraordinário comportamento de alguns diplomatas espanhóis, é algo que deve ser investigado, contado e recordado, junto com [o comportamento] de todos aqueles que arriscaram a vida por seus semelhantes”, escreve o jornalista.

Salônica durante séculos abrigou uma florescente comunidade de descendentes de judeus portugueses e espanhóis. A comunidade, de 60 mil pessoas em 1941, foi praticamente exterminada em campos de concentração. Quando a Segunda Guerra terminou, restavam apenas 1.200 judeus, a maioria dos quais emigrou para Israel.

Novo velho golem

O golem de Praga é definitivamente um ótimo negócio. O gigantesco boneco de barro que, de acordo com a lenda judaica e tcheca, foi trazido à vida no século XVI por um rabino, para proteger os judeus de perseguições, está na moda. Proliferam na cidade hotéis temáticos, réplicas, bibelôs, espetáculos musicais, etc., tudo com o nome dele, que se infiltrou até na cozinha tcheca, no menu do restaurante...Golem (não kasher).

Em tempos de crise, não podia ser diferente. É cada vez maior o número de visitantes e turistas que colocam papéis com orações e pedidos de ajuda à beira do túmulo do rabino Judá Loew ben Bezalel, criador do superpoderoso golem. Até Michelle Obama, mulher do presidente dos EUA, visitou o túmulo quando esteve em Praga com o marido. Não se sabe se ela fez algum pedido...

O rabino, um erudito respeitado, cabalista e escritor, morreu há 400 anos, em setembro de 1609. É claro que a vulgarização de seu legado, que aponta para uma espiritualidade superficial, anda irritando muita gente. O rabino-chefe da República Tcheca, Karel Sidon, por exemplo, declarou ao jornal New York Times que os atuais desdobramentos o incomodam tanto quanto a visão de hordas de turistas comprando souvenirs de Kafka nas esquinas de Praga, sem jamais terem lido um só livro dele.

Houve várias lendas talmúdicas em torno de demônios, anjos, golems e outras figuras misteriosas. No caso de Praga, conta-se que o rabino inscreveu a palavra emet (verdade, em hebraico) na testa de sua criatura, a quem chamou de José, conhecido como Iossele no gueto. Mais tarde, o homem artificial fugiu ao controle do criador, que então apagou a letra e de emet, transformando-a em met, morte, e deu-lhe eterno descanso no sótão da sinagoga.