29.12.09

A linguagem vazia e exacerbada do Terceiro Reich *


LTI — A linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer. Tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner. Editora Contraponto, 425 pgs. R$ 60
(resenha publicada no Prosa Online (Prosa e Verso) de O GLOBO em 28.12.2009)


Minuciosos, objetivos, mantendo quase sempre um distanciamento “científico” em relação ao seu objeto, os textos que integram o livro “LTI — A linguagem do Terceiro Reich” (a sigla LTI corresponde a Lingua Tertii Imperii) são, originalmente, parte dos “Diários” que o filólogo judeu-alemão Victor Klemperer (1881-1960) escreveu durante o regime nazista (1933-1945). Por 12 anos, o povo alemão ouviu e usou o idioma empobrecido e monótono que confundia domínio público e privado e não distinguia linguagem escrita de oral: tudo era discurso e propaganda. “Tu não és nada, teu povo (Volk) é tudo”, pregava-se, enquanto se apagavam os traços do passado e se alardeava o futuro radioso do império que devia durar mil anos.

Combatente na Primeira Guerra, Klemperer recebeu com a perplexidade dos alheios à política o avanço do totalitarismo nazista. Convertido ao luteranismo, casado com uma cristã, respeitado catedrático de letras latinas na Universidade de Dresden, crítico especializado em literatura francesa, proclamava-se uma “alma” impregnada de germanidade. Indiferente ao destino dos judeus e antissionista, acabou se tornando, ao registrar meticulosamente o que lhe ocorreu no Estado nazista, uma das melhores testemunhas da maior tragédia judaica contemporânea.

“Sentia-me agredido pelas frases dos cartazes, pelos uniformes marrons, as bandeiras, o braço estendido na saudação nazista e os bigodes aparados no estilo de Hitler. Fugia de tudo isso, absorvido em minha profissão”, escreveu. Aos poucos, essa fuga tornou-se inviável, e a imposição traumática de uma identidade deu-lhe o sentimento, provisório, de pertencimento ao povo judeu (algo similar ocorreu a Primo Levi, que disse: “tornei-me judeu em Auschwitz”).

Mesmo depois da Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938 (quando foram quebrados os vidros das sinagogas e lojas pertencentes a judeus em toda a Alemanha), o que levou muitos intelectuais a emigrarem, Klemperer manteve-se aferrado à pátria. Segundo os padrões raciais do Terceiro Reich, era um não-alemão, sem uma gota de sangue “ariano”. Segundo ele, os nazistas é que eram não-alemães! Se o fossem, argumentou, não teriam decretado sua expulsão da universidade (em 1935), nem confiscado seus livros, sua casa, sua máquina de escrever (em 1938)... Tampouco o teriam proibido de frequentar bibliotecas, nem o teriam obrigado (a partir de 1941) a usar a estrela amarela e a trabalhar como operário não remunerado dez horas por dia — “privilégio” que o salvou do “transporte” para um campo de extermínio.

Em 13 de fevereiro de 1945, o maciço bombardeio britânico produziu 35 mil mortes e ensejou o caos em Dresden. Klemperer, sobrevivente por pura sorte (estava na rua no  dia em que seu prédio foi arrasado), arrancou a estrela amarela e saiu da cidade com a mulher. Os “Diários”, levados por ela para a casa de uma amiga, estavam a salvo. Terminada a guerra, o casal retornou. O filólogo tornou-se membro do Partido Comunista da nova República Democrática Alemã e chegou a deputado, prestigiado representante do povo alemão (seus "Diários" viraram filme).

Povo era uma das palavras preferidas de Hitler e de seus ministros, empregada, diz Klemperer, “com a mesma naturalidade com que se coloca uma pitada de sal na comida”. E quem era estranho ao povo, como os judeus, os comunistas, os eslavos e os ciganos, entrava na categoria de inimigo mundial (Weltfeinde). Contra esses inimigos se recorreu desde o início ao que o filólogo anotou como sua “primeira palavra especificamente nazista”: Strafexpedition (expedição punitiva, contra civis), dita ao telefone pelo filho adotivo, entusiasmado com o regime. Klemperer cortou a ligação e nunca mais se falaram. A palavra heroísmo mudara de sentido.

Nos momentos culminantes, a LTI é uma linguagem de fé exacerbada, que aproveita, esvaziando-os de seu significado, elementos do cristianismo. O primeiro Natal após a anexação da Áustria foi celebrado como a Festa da Alma Alemã, o Natal da Grande Alemanha, sem qualquer menção ao judeu Jesus. A palavra “eterno” é vital para a mística da LTI. No Terceiro Reich, tudo é eterno, tudo é histórico, tudo é único. E tudo é grandioso: a cada discurso de Hitler (quase todos “de importância histórica mundial”), mesmo quando a derrocada militar se aproximava, as manchetes gritavam: “O mundo escuta o Führer”. Quando se vencia uma batalha grande, ela era citada como a maior batalha da História Universal.

Essa propensão ao superlativo, que Klemperer diz ocorrer naturalmente em outras latitudes (como os países latinos), foi um fenômeno sem precedentes na Alemanha e, portanto, muito mais virulento. Às vésperas do desembarque aliado na costa atlântica, os nazistas proclamavam a superioridade de suas forças e mantinham expressões como “vitória final”. A recusa a admitir a realidade é atribuída pelo filólogo à influência do romantismo alemão, arraigado na mentalidade coletiva, que se por um lado permite os mais altos voos da imaginação, por outro abre caminho para a aceitação de todos os exageros.

Publicado no Brasil 62 anos após a primeira edição em alemão, o livro vem sem glossário. Este pode ser acessado na tese de mestrado da tradutora, Miriam Bettina Paulina Oelsner. Ali se encontram 600 termos, com suas respectivas traduções, da linguagem nazista, muitos dos quais perduraram após o fim do regime (www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8144/tde-21032005-124844/).

* Heliete Vaitsman é jornalista, tradutora, diretora do Museu Judaico-RJ

22.12.09

Memória e História


Um dos grandes mestres da História judaica, Yosef Hayim Yerushalmi morreu em Nova York no último dia 8 de dezembro, aos 77 anos. Reconhecido pela rara combinação de erudição, brilho analítico e texto agradável de ler, ele abre assim o primeiro capítulo do livro “O Moisés de Freud – Judaísmo Terminável e Interminável” (editora Imago, tradução de Júlio Castañon Guimarães).

Em uma conversa que deve ter ocorrido em torno de 1908, Freud contou a Theodor Reik a seguinte piada:

Perguntaram ao menino Itzig na escola: “Quem foi Moisés?” Ele responde: “Moisés era filho de uma princesa egípcia”. “Isto não é verdade”, diz o professor. “Moisés era filho de mãe hebréia. A princesa egípcia encontrou o recém-nascido em uma cesta.” Mas Itzig responde: “É o que ela diz!”

A piada nos chama a atenção por dois aspectos; em primeiro lugar, o precoce Itzig parece já mostrar talento para o que Paul Ricoeur, referindo-se ao próprio método de Freud, chamou elegantemente de “hermenêutica da suspeita”; e em segundo lugar, porque foi Freud, afinal, quem nos ensinou a levar a sério as piadas[...]

Freud sugeriu em "Moisés e o Monoteísmo", diz Yerushalmi, que havia quase uma transmissão genética de memórias inconscientes. Essa transmissão explicaria para Freud, prossegue o historiador, “o poderoso sentimento de que, para o bem ou para o mal, um indivíduo jamais pode efetivamente deixar de ser judeu”.

Yerushalmi, nascido no Bronx de pais russos, foi por 28 anos o influente diretor do Centro de Estudos Judaicos e de Israel da Universidade de Colúmbia. Autor de interesses abrangentes (sua dissertação de doutorado foi sobre o médico marrano Isaac Cardoso), seu trabalho mais citado são as reflexões sobre a memória coletiva do povo judeu, Zakhor: História Judaica e Memória Judaica, que examina o conflito entre o vigoroso (e não verificável) relato coletivo judaico, pleno de emoções e paixões, e a História propriamente dita, com sua exigência de evidências.

Tia Pepe - a que nunca falou, mas sempre sorriu (e dançou)

Por falar em memória, vejam como o texto memorialístico abaixo, "íntimo", também remete ao coletivo. A autora é a gaúcha Clélia Estill, fonoaudióloga radicada no Rio, ex-presidente da Associação Nacional de Dislexia. Ela recupera com emoção o universo da família materna, os Federbusch, imigrantes que se fixaram na localidade de Barão Hirsch depois da Primeira Guerra.
Tia Pepe mais queria saber escrever do que falar, eu acho. Sempre que eu ia à casa da Vó, aos domingos, ela me fazia sinais de que queria ver os meus cadernos de aula – eu tinha sete anos e sabia mais coisas do que ela, pensava. Mas a ensinei a escrever e falar as vogais – todas!

Tia Pepe nasceu surda, muito surda, tão surda que nunca ouviu um som na vida, mas dançava como ninguém, um espanto para nós, crianças ouvintes, dançantes, falantes, mas não tão pensantes ainda. Eu era a única menina da família naqueles tempos. Mal acabava o almoço, ela me levava para o quarto dela, que era da minha avó Amália também. Começava a me mostrar tesouros – cremes e perfumes, bijuterias novas e outras já vistas, roupas e camisolas. E fazia seu gesto de beleza, um biquinho com a boca, ou todos os dedos juntos colados aos lábios, e explodia mãos e lábios ao mesmo tempo e com os olhos perguntava – não são bonitos?

O quarto delas – vó e tia – cheirava a perfume e tinta de cabelo. Eu não gostava do cheiro, mas me fascinava com as coisas que ela ia tirando de dentro de velhas caixas, algumas embrulhadas em papéis amarelados, outras envoltas em papéis de seda que protegiam as roupas novas da tia Pepe. Ela era muito vaidosa, mostrava com orgulho o corpo, que era mesmo bem bonito, e gostava de usar vestidos justos modelando-o.

Nunca falou, a tia Pepe; mas sempre sorriu.

Com certeza foi a pessoa mais em paz com a vida que conheci, apesar da triste história de sua vida de criança – história que conheci aos poucos, pois minha mãe não gostava de falar no passado. O pai da tia Pepe, meu avô Felipe Federbusch, veio para o Brasil, lá pelos anos 1920, de uma aldeia na Polônia, Borislav [hoje Ucrânia] trazendo a família: Vó Amália e os filhos, Jacob, Abrahão, Menach (tio Max)e Tonia (minha mãe).

Tia Pepe, com mais ou menos seis anos, não pôde vir junto com a família porque era “deficiente” e o governo brasileiro só aceitava imigrantes que pudessem responder por sua produção e sustento. Foi uma “escolha de Sofia”. Ou o avô salvava a maior parte da família, enquanto tentava provar que poderia sustentar a filha deficiente quando chegasse ao Brasil, ou ficava na miséria da Polônia e morreriam todos em algum dos “pogroms” que volta e meia dizimavam as aldeias judias.

A menininha ficou com uma família que viria mais tarde para o Brasil. Tia Pepe viu seus pais e irmãos partirem deixando-a para trás. Não sei nem imaginar o que devem ter sofrido todos eles. Se ficar alguns dias sem ver os filhos e netos é tão difícil para mim, imagino o horror com que todos viveram aquela separação, tão indefinida quanto ao tempo de reencontro...

Mas tia Pepe não combina com estes pensamentos – ela não falava, mas sempre sorria. Um ano depois da chegada ao Brasil meu avô provou ao governo que poderia sustentar a filha sem dar despesas ao país que os “abrigava”... Conta–se que a menina veio com uma família que ficaria na Argentina. Dali ela veio para o Brasil na companhia de desconhecidos, que a trouxeram até o interior do Rio Grande do Sul, onde meus avós moravam, na localidade de “Barão Hirsch” [em 1891, o barão judeu Maurice Hirsch fundou a Jewish Colonization Association (ICA) com o objetivo de retirar os judeus da Europa Oriental e assentá-los como agricultores].

Então a menina encontrou seus pais e irmãos e tratou de ser feliz. Aprendeu a cozinhar com a mãe e a costurar não sei com quem. Costurava tão bem que foi a costura de alfaiate que a sustentou até o final de sua vida. Quando muito jovem, começou a trabalhar numa alfaiataria, uma oficina de costura de roupas masculinas, ternos forrados de seda e calças com costuras muito bem acabadas. Tia Pepe trabalhou até se aposentar. Primeiro na alfaiataria e mais tarde na fábrica de bolsas do tio Max.

Só conheci a tia Pepe adulta. Na verdade nem sei se meus tios eram tão velhos como eu pensava – eu e Mario, meu irmão, éramos as únicas crianças da família, e pensávamos que todos eram velhos. Mas, pensando bem, os tios deveriam ter entre 20 a 25 anos quando eu nasci, em 1940.

A dança da tia Pepe era um sucesso – o tio Jacob tinha uma coleção de rádios e a casa da Vó Amália ficava num sobrado com chão de tábuas corridas. Quando o rádio tocava, o chão vibrava, e era com a vibração do assoalho que ela percebia o ritmo, mas não a melodia da música, e dançava conosco. Lembro que eles tinham muitos amigos surdos, que ficavam mudos porque não ouviam, e recebiam muitas visitas aos domingos.

“Eles” é porque bem mais tarde nasceu, já brasileiro, meu tio Waldemar, que também era surdo. Só que tio Waldemar tinha um resto de audição e aprendeu a falar (mais tarde eles fundaram uma Associação de Surdos e Mudos e tio Waldemar deu até uma entrevista no rádio).

Tia Pepe e Vó Amália faziam biscoitos enroladinhos de amendoim e guardavam numa lata enorme. Numa outra lata, também enorme, ficavam os “pletsales”, biscoitos com canela e açúcar, em forma de meia-lua. Aos domingos, no meio da tarde, junto com o chá, ela trazia aquelas latonas, a gente enfiava a mão lá dentro e trazia a mão cheia dos mais cheirosos e deliciosos biscoitos de amendoim. Uma coisa!

Mas bom mesmo era a expressão de alegria com que ela nos via comer as delícias que preparava. Às vezes nos dava os tais biscoitos escondidos, porque, claro, nossa mãe não ia deixar a gente se empanturrar de doces – como é que poderíamos sobreviver sem um jantar?

Assim o tempo foi passando e tia Pepe não casou, mas acho que namorou um dos amigos da turma dos bailes. Ela tinha uma amiga, chamada Rosa, que se casou e teve filhos; outros da turma também se casaram, tiveram filhos, e a vida foi tocando.

Casei, tive filhos e vim morar no Rio de Janeiro. Um dia, tio Max me telefonou de Porto Alegre e pela primeira vez me pediu “um favor”. Mal sabia ele que o tal favor viria a ser uma grande alegria para todos nós. É que tia Pepe tinha vindo visitar uns amigos no Rio: viera de ônibus e ele nem sabia se ela tinha chegado bem, pois os amigos também eram surdos e não sabiam escrever – mas ele tinha o endereço.

Então lá fomos nós, meu marido Denis e eu, procurar a tia Pepe em uma ruazinha sem asfalto no subúrbio, em Cascadura. Encontramos tia Pepe numa casa pobrezinha, mas feliz como sempre. Mais feliz ela ficou quando a convidamos a passar uns dias conosco, em nossa casa de Jacarepaguá. Ela aceitou, mas, como era do seu feitio, trouxe a filhinha do casal para passear em Jacarepaguá. Não esqueço a expressão de deslumbramento quando ela viu a quantidade de árvores e a piscina de nossa casa. A menininha dormiu no quarto da Flavia e Denise, e tudo era festa naqueles dias. Fomos ao Corcovado, à praia da Barra, a Copacabana, ao Jardim Botânico.

Em compensação ela fez “borsch”, sopa de beterrabas e batata cozida, que era o que mais havia para comer na Polônia. Fez também caldo de galinha, bolinhos e biscoitinhos de amendoim. Bordou uma tapeçaria, aquele quadro com um cavalo, que faço questão de manter na parede, para que a gente se lembre do exemplo de vida que foi a tia Pepe.

Muito tempo passou – tia Pepe e todos os tios morreram, meus filhos cresceram, eu virei avó, trabalhando cada vez mais em fonoaudiologia e psicopedagogia. Um dia foi a um Congresso no INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Era um congresso internacional e havia tradutores de Inglês/Português; Português/Inglês; e língua brasileira de sinais – LIBRAS. Fiquei tão comovida vendo aquela linguagem, agora considerada uma língua oficial, que depois das palestras fui cumprimentar a jovem tradutora em LIBRA.

Comecei contando a ela sobre meus tios e ela quis saber o nome deles. “Ora!", disse eu, "você não vai conhecer, eles viviam lá em Porto Alegre e já morreram faz tempo”.

“Não me diga que seus tios são a Pepa e o Waldemar!”, disse ela, com muitas lágrimas nos olhos. “Você é a Clélia, nunca esqueci dos dias que passei em sua casa, e como Flavia e a Denise eram lindas e me deixaram dormir no quarto delas”.

A tradutora era a filha do casal de surdos-mudos, que aprendeu a traduzir a vida para seus pais e naquele momento traduziu para mim o sentido das escolhas - o que se escolhe pode custar a ser entendido, mas um dia explode aos nossos olhos como um clarão de luz.

Não por acaso fui me encaminhando ao trabalho com as pessoas ditas deficientes, hoje consideradas especiais. Agora, quando todos são chamados a conviver com as diferenças, venho a descobrir o que a família Federbusch já havia me ensinado: “Somos todos especiais, somos todos incompletos e convivendo vamos nos completando uns aos outros”. Tia Pepe nunca viveu nem se sentiu como uma deficiente em nossa família, por isto trabalhou, compartilhou o que tinha, viajou, trazendo alegria aonde passava. E todos aprendemos naturalmente a nos comunicar com ela numa outra forma de linguagem – éramos bilíngües e nem sabíamos!

Contos de Leandro Sarmatz *

HARRY ABBOTT
Harry Abbott, o ator americano, um ex-viciado em metadona, estava ficando louco -pelo menos é o que andavam dizendo no set. Vivendo há mais de três meses isolado na Amazônia com W. H., o diretor alemão, além de uma numerosa equipe de atores e figurantes das mais diversas nacionalidades, Abbott estava ali para protagonizar um filme fantasioso sobre ninguém menos que Adolf Hitler. O enredo deveria se concentrar na suposta captura de um Führer já octogenário, que sobrevivia como um bicho no meio da floresta brasileira.

Para ler a continuação deste e de mais dois contos do autor clique na revista on line Tropico.

* Leandro Sarmatz é escritor e jornalista. Nasceu em Porto Alegre e vive em São Paulo. É mestre em Letras, autor do livro de poemas "Logocausto" (Editora da Casa, 2009) e da peça "Mães & Sogras" (IEL, 2000), que será montada em Porto Alegre em abril.

17.12.09

Sobre o Eixo, uma frase perturbadora

Memória
"Adeptos do eixo nazifascista ainda existem na diplomacia brasileira. O que me deixa indignado é que alguém como o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que teve a coragem de dizer que a Alemanha e o Japão estão excluídos do Conselho de Segurança da ONU por terem tido a ousadia de desafiar a liderança anglo-saxônica do mundo (Mundo, 6/12), seja ministro de Assuntos Estratégicos do Brasil.

Em memória dos milhões de mortos da Segunda Guerra, fica aqui o meu protesto."

ALBERTO GOLDMAN , vice-governador de São Paulo (São Paulo, SP) - carta publicada na Folha de São Paulo em 15 de dezembro de 2009.

A reação de Goldman seguiu-se à declaração do Ministro, publicada na Folha de 6 de dezembro,em matéria de Claudia Antunes reproduzida abaixo. A frase sobre Alemanha e Japão, que omite o caráter totalitário e os crimes contra a humanidade do Eixo, cabe na perspectiva relativista que "naturaliza" fatos históricos cujos detalhes são pouco conhecidos pelo público.

Ministro cobra desarme de países atômicos

O ministro de Assuntos Estratégicos, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, elogiou e aprofundou a declaração feita na quinta-feira, na Alemanha, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que as potências atômicas precisam se desarmar para ter "autoridade moral" para cobrar o desarme de países como o Irã.

"O controle da situação militar [no mundo] exige o desarmamento dos países nucleares, não o desarmamento dos desarmados, que não colocam nenhum país em risco. O não desarmamento dos países nucleares é que leva à proliferação, porque os países que se sentem ameaçados sabem que eventualmente não serão atacados se estiverem armados", afirmou o ex-secretário-geral do Itamaraty.

"Fico feliz porque escrevi isso antes das declarações do presidente Lula", disse, antes de comentar: "A Coreia do Norte não tem o destino do Iraque porque tem a bomba".
Guimarães encerrou na noite de anteontem, no Rio, conferência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty -entidade de cuja direção foi afastado em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, por atacar eventual ingresso do Brasil na Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Conhecido pela oposição ao sistema internacional criado sob a hegemonia dos EUA, o ministro fez afirmações que qualificou de "heterodoxas" ao analisar as "três crises internacionais" -econômica, ambiental e de governança- e sua relação com "quatro tendências": globalização, multipolarização, normatização e transformações tecnológicas. Ele descreveu esforços das potências ocidentais para aprofundar, no pós-Guerra Fria, as normas pelas quais concentram poder. Disse que os acordos de não proliferação "garantiram privilégios a certos Estados", que tentam ampliá-los. "Também não querem que os países não armados tenham armas convencionais. Facilita muito, não é?"

Citou as visitas recentes dos presidentes do Irã, de Israel e da Autoridade Nacional Palestina e ironizou os que criticaram a vinda de Mahmoud Ahmadinejad. "Alguns queriam que nós pedíssemos licença, mas não pediram para o presidente de Israel, aí não precisava, não é?"

Guimarães defendeu a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão de Brasil, Índia, africanos e as potências do Eixo nazifascista derrotadas na Segunda Guerra, Alemanha e Japão, "depois de tantos anos de purgatório, de punição, por terem desafiado a liderança anglo-saxônica do mundo" (grifo meu).

Segundo ele, o Brasil está em boa posição nas negociações sobre mudança climática por sua matriz energética limpa e pela decisão de adotar metas voluntárias de redução das emissões. O aquecimento global, afirmou, decorre da visão de que "o indivíduo pode consumir o que bem entende, e o produtor produzir o que bem entende", num mundo de recursos naturais que "seriam inesgotáveis", o que levou ao uso intensivo de combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos.

A mesma visão pressupunha que os demais Estados "não poderiam chegar ao mesmo nível de consumo". A pregação do desenvolvimento sustentável, disse, surgiu nesse contexto: "Nunca [...] defenderam o crescimento sustentável para os países desenvolvidos, sempre para os subdesenvolvidos. Fica até de mau gosto dizer isso. Mas é a verdade."

Para Guimarães, países como Brasil, Índia e Rússia não são "absorvíveis" pelos três polos em torno de Estados Unidos, União Europeia e China. "Temos a sorte", disse, de poder formar um polo na América do Sul, "base central da política externa brasileira".

O ministro avaliou que o Brasil está em geral bem posicionado diante dos desafios internacionais, com uma exceção importante: inovação tecnológica. Comparou o investimento anual dos EUA em pesquisa, de US$ 300 bilhões, com o brasileiro, de US$ 15 bilhões.

"Se não fizermos avanços, estaremos num patamar inferior de competitividade em termos econômicos, políticos e militares." (Claudia Antunes)

14.12.09

Retrato da Inquisição entre "desvios" sexuais e heresias


Enviado a Pernambuco para caçar hereges judaizantes, o Santo Ofício vê-se às voltas com denúncias de sodomia, lesbianismo e "desvios" sexuais variados, o que produz uma sucessão de tentações para os inquisidores: assim começa a peça “Ecos da Inquisição”, de Miriam Halfim, sob direção de Moacir Chaves [em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, de sexta a domingo às 19h, até 7 de fevereiro - estudantes do ensino médio público com carteira não pagam]. 

O texto ganhou uma montagem criativa e nada ortodoxa. O diretor optou por mesclar às informações históricas elementos contemporâneos e díspares, a exemplo do som quase permanente da cuíca (e também do tamborim, do repique, do agogô) pontuando as cenas, inclusive as mais dramáticas, e da indígena nua passeando sobre a mesa e sendo alvo da cobiça do inquisidor. Os figurinos também não são de época.

O estranhamento produzido por essa opção ressalta o fosso entre dois mundos (e entre as classes dominantes e as dominadas de qualquer época, ou, como diziam os pernambucanos, entre os cavalcantis e os cavalgados): de um lado, o trópico "caliente" e descontrolado, hiper-sexualizado, do outro os costumes ibéricos e as justificativas para perseguir quem desafia regras. Mas não há bonzinhos nesse enredo: até a índia se vinga fazendo denúncias. E tudo é contado pelo notário, prototípico "homem sem qualidades" cuja rotina é preservada às custas das iniquidades que ele vê se desdobrarem à sua frente. Não fossem suas tiradas de humor e o notário se tornaria um personagem odioso, apesar de medíocre...

São três os momentos retratados: a prisão de acusados por denúncias de sodomia e bigamia na primeira visita do Santo Ofício ao Brasil, a condenação ao desterro do Padre Antônio Vieira e a prisão do dramaturgo Antônio José da Silva, nascido no Brasil e levado preso para Lisboa, onde morreu na fogueira.

Um aspecto interessante do texto é a preocupação didática da autora, que tem dez peças contempladas em diferentes concursos de dramaturgia no Brasil. Quem assistir a "Ecos da Inquisição" vai rir, e celebrar a vida, mas também vai aprender que, dentre as 61 mil pessoas condenadas pela Inquisição em três séculos, 31.350 foram "purificadas" pelo fogo. Haja heresias! E haja denúncias!  Detalhe: o Santo Ofício estimulava a delação, prendia e torturava, mas não matava. As execuções, quando necessárias a bem da ordem vigente, eram sempre feitas pelas autoridades seculares de Lisboa...

Memórias da Leopoldina, por Ieda Rozenfeld

A memória da comunidade judaica dos subúrbios da Leopoldina, que teve seu auge entre 1930 e 1960, vem emocionando muita gente. É uma história de sucesso e superação, em vários pontos similar à dos judeus de Nilópolis e dos subúrbios da Central do Brasil. Clique em Lembrando a Leopoldina - e assista ao vídeo de Ieda Rozenfeld, que também lembra os 60 anos da sinagoga Ahavat Shalom.

12.12.09

Hanukiá de Praga na Casa Branca



No próximo dia 16, este candelabro se iluminará diante dos convidados da Casa Branca para celebrar Hanuká. A tradição foi iniciada por George W. Bush e continua com o governo Obana. O candelabro foi emprestado pelo Museu de Praga e pertenceu a uma família judia tcheca exterminada no Holocausto. Num momento de emoção e simbolismo, será a primeira vez que ele será usado desde a Segunda Guerra.

10.12.09

Clarice Lispector: 22 contos favoritos


Clarice na Cabeceira, organizado para a Editora Rocco por Teresa Montero, é uma  amostra de Clarice Lispector, selecionada por 22 fãs da escritora. É uma seleção afetiva, feita por nomes como Luis Fernando Verissimo, Fernanda Torres, Affonso Romano de Sant’Anna, Rubem Fonseca, Benjamin Moser e Maria Bethânia.

Os textos selecionados estão em cada um dos livros de contos de Clarice: Laços de família (1960), A legião estrangeira (1964), Felicidade clandestina (1971), A via crucis do corpo (1974), Onde estivestes de noite (1974) e A bela e a fera (1979). Junto a cada conto, quem o indicou também compartilha de que modo a presença e/ou a obra de Clarice marcaram sua vida.

9.12.09

Torá escrita em público


Durante um ano, Julie Seltzer, soferet (escriba profissional), vai escrever um rolo da Torá, o mais importante objeto ritual do judaísmo, em público, no Museu Judaico Contemporâneo de São Francisco. A tarefa começou em outubro e termina no outono de 2010: em 62 folhas, 248 colunas e 10.416 linhas, a moça vai escrever 304.805 letras – daí o nome do projeto: “As it is written: Project 304.805 (The Torah Project)”.

Tradicionalmente, a Torá era escrita por homens e privadamente. A soferet não só vai trabalhar numa galeria do Museu, mantendo uma espécie de “exposição em progresso” aberta ao olhar do público, mas responderá a perguntas em sessões especiais e compartilhará informações sobre seu trabalho. O Museu é a primeira instituição pública do mundo a mostrar o processo de escrita da Torá. Os meios, como o bico de pena e o pergaminho, continuam os mesmos que eram há milênios.

Em torno da atividade da escriba, o Museu apresenta outras exposições sobre distintos aspectos da Torá (como objeto histórico, objeto ritual e tradicional), além de obras de artistas contemporâneos e exemplos da ornamentação da Torá ao longo dos tempos.

As reflexões de Julie sobre seu processo de trabalho e conteúdo do que escreve  estão no seu blog: clique aqui para ler.

Escrita judaica e brasileira


Contemporary Jewish Writing in Brazil, lançado nos EUA, dá ao público de lingua inglesa uma boa ideia da diversidade dos escritores judeus brasileiros no século XX. O organizador é Nelson Vieira, professor do Departamento de Estudos Judaicos da Universidade de Brown.

Integram a antologia: Bernardo Ajzenberg, Roney Cytrynowicz, Alberto Dines, Francisco Dzialovsky, Judith Grossmann, Jacó Guinsburg, Marcos Iolovitch, Paulo Jacob, Esther Largman, Jaime Lerner, Eliezer Levin, Clarice Lispector, Elisa Lispector, Samuel Malamud, Cíntia Moscovich, Rosa Palatnik, Samuel Rawet,Samuel Reibscheid, Sônia Rosenblatt, Moacyr Scliar e Amália Zeitel.

7.12.09

Benjamin Moser corrige interpretação de escritora brasileira sobre trecho de sua biografia de Clarice Lispector

Recebi e-mail de Benjamin Moser, autor da recém-lançada em português biografia de Clarice Lispector (editora Cosac Naify), solicitando correção à interpretação de Noga Sklar sobre trechos do seu livro (leia aqui a entrevista de Moser sobre aspectos judaicos de Clarice).
“ (...) Primeiro, pode ser que a demissão do JB não tinha nada a ver com o fato de Clarice ser judia, mas como verá no meu livro, não estou acusando o Nascimento Brito de ser antissemita. Disse que ele precisava agradar ao General Geisel. É uma história complicada, mas não há grande dúvida que a solução encontrada foi a de demitir os judeus. Pode ser uma fantasia, mas o fato é que os judeus, pouco depois da guerra de Iom Kipur, foram, com uma só excessão, demitidos, e que todos acreditaram que foi por isso. O filho da Clarice me disse há poucos dias que ela, sim, acreditava que foi porque era judia, e pode falar com o Alberto Dines se houver outras dúvidas.

Mas pode haver outras opiniões. Onde não pode haver outras opiniões é aqui, quando você escreve o seguinte: "Diz Noga: "A "Chevra Kadisha" não é, como o autor faz soar, uma entidade ortodoxa que só atende a celebridades ou grandes místicos, não, gente. "Chevra Kadisha" é o nome em hebraico [turma santa] de quem provê serviços funerários, lavagem de cadáveres e todo o resto. Tem uma "Chevra Kadisha" em qualquer comunidade judaica (no Brasil, e, imagino, no resto do mundo), quem quiser aí pode conferir".

Se você olhar no livro, vai ver a seguinte frase: (p. 557 da ed. brasileira): "Quatro mulheres da sociedade funerária, a Chevra Kadisha, limparam seu corpo por dentro e por fora, envolveram-no num lençol de linho branco, pousaram sua cabeça num travesseiro cheio de terra, e a cravaram dentro de um caixão simples de madeira."

Não vejo onde digo que a Chevra Kadisha "só atende a celebridades ou grandes místicos." Isso é um ataque absolutamente absurdo e agradeceria a correção".

2.12.09

Teatro contra a intolerância


Duas peças que podem ser vistas no Rio nesse fim de semana, Ecos da Inquisição, de Miriam Halfim, e O Interrogatório, de Peter Weiss, não são apenas "históricas", pois a discussão sobre intolerância e totalitarismo continua atual. O diretor da primeira (que fica até o fim do mês no Centro Cultural da Justiça Federal) é Moacir Chaves, para quem a  Inquisição é um tema contemporâneo:

"A distância temporal esconde a permanência da Inquisição. Distância, aliás, nem tão grande assim", diz ele. "O Santo Ofício só foi extinto em 1821. Além disso, temos bem perto de nós diversos parentes próximos da nefanda instituição. Para não nos estendermos muito, fiquemos com o advento do Nazismo e seu produto final, o Holocausto. A Inquisição? Aconteceu anteontem. A escravidão? Foi ontem. E suas sequelas constituem marcas indeléveis da sociedade brasileira, como a gritante desigualdade social e a desvalorização do trabalho".


Eduardo Wotzik, diretor de O Interrogatório, de Peter Weiss, que volta ao Rio no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico (só em 4, 5 e 6 de dezembro), diz que a peça é “ uma maravilhosa oportunidade de nos lembrarmos que um Estado construído na ignorância está facilmente sujeito à bestialidade”. Para ele, “a miséria espiritual e física, a pobreza, o analfabetismo, a falta de humildade, a ignorância, a falta de noção de cidadania, do limite do outro e de ética, levam à destruição do meio ambiente externo e interno do homem”.

Mitos e fatos: considerações de Noga Sklar

Já dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. Então, é um alívio conhecer gente – como a escritora Noga Sklar – que ousa ir contra a corrente. Ela faz, em seu blog Noga Bloga,  uma crítica inteligente à biografia do norte-americano Benjamin Moser sobre Clarice Lispector, recém-lançada em português.

Moser fez dezenas de entrevistas no Brasil, mas alguns aspectos da situação no país foram mal compreendidos. Por exemplo, ele alega que foi o antissemitismo que levou Clarice Lispector e Alberto Dines a serem demitidos do Jornal do Brasil nos anos 1970. Mas a imprensa carioca na época era pró-judaica, por conta do pró-sionismo,  exaltando dia sim e outro também o “pomar verdejante” criado em Israel, contraponto ao anacrônico mundo árabe. Na redação do JB, os judeus (poucos, além do Dines; lembro agora de Diane Kuperman, Fichel Davit Chargel e Helena Salem) trabalhávamos sem que a questão judaica fosse assunto para ninguém... Não se falava nisso e pronto. Falava-se muito de política, de questões sociais, da ditadura...Éramos simplesmente brasileiros!

Um trecho que incomodou Noga, entre outros, trata do ritual fúnebre de Clarice. Diz Noga:

A "Chevra Kadisha" não é, como o autor faz soar, uma entidade ortodoxa que só atende a celebridades ou grandes místicos, não, gente. "Chevra Kadisha" é o nome em hebraico [turma santa] de quem provê serviços funerários, lavagem de cadáveres e todo o resto. Tem uma "Chevra Kadisha" em qualquer comunidade judaica (no Brasil, e, imagino, no resto do mundo), quem quiser aí pode conferir.

Enquanto no início do livro fui movida por uma extraordinária simpatia com a trágica história de Clarice, minha conclusão final não poderia ser mais chocante, disparatada, reveladora, cá entre nós: quase todos da geração dela, que é a mesma de minha mãe, por exemplo, teve pais que eram mascates - meu avô, por exemplo, era - pobres, com trauma de imigrantes e de refugiados de guerra cuja memória abalada se consola e enriquece pela existência mística de algum sábio na família (também tenho o meu, um "grande tzadik" pelo lado de vovó, sepultado com honras na mística e sagrada Safed dos antepassados).

Pouco a pouco, foram se ajeitando, e Clarice, neste contexto, termina sendo francamente privilegiada: casada com um homem - segundo relatos diretos de quem o conheceu muito bem - bastante refinado e sensível, viveu no exterior regiamente sustentada pelo estado e pouco lhe faltou durante a vida, mesmo depois de separada do marido. Trauma de escassez, lhes confesso agora, faz parte da psique de qualquer judeu das gerações da guerra, uma fome que não passa, um complexo de pó-de-ovo arraigado que leva ao desespero e do qual poucos se livram, ou se livraram. Eis a nossa história comum grosseiramente resumida.

Leia o artigo completo no blog da autora.

1.12.09

Auschwitz em quadrinhos poloneses


Amor à Sombra da Morte é o primeiro volume (em polonês e inglês) da série Episódios de Auschwitz, de uma editora polonesa que aposta em HQ, histórias em quadrinhos, para divulgar ao público jovem fatos ocorridos no campo de extermínio. O estilo é realista e a chamada é popular, do tipo “Eles encontraram o amor entre os horrores do campo, mas nunca alcançaram o sonho de viver juntos uma nova vida”.

No caso, “eles” são um casal real, Edek Galinski e Mala Zimetbaum, ela judia, ele não, que chegaram a escapar de Auschwitz, mas foram recapturados e mortos. Sobreviventes do campo participaram da criação da série, como consultores.

Os dois volumes seguintes não têm a ver com judeus. Um é o relato sobre o polonês Witold Pilecki, membro da Resistência, que foi voluntariamente para Auschwitz, de onde passava informações, e acabou executado como traidor pelo regime comunista no pós-guerra. O outro é sobre Maximillian Kolbe, frade franciscano que também foi prisioneiro do campo e ficou conhecido como “o santo de Auschwitz”.

Veja mais no site Episódios de Auschwitz

Sinagoga de Olaria faz 60 anos



Fotos de Regina Reznik

A sinagoga Ahavat Shalom, em Olaria, teve seu apogeu com a consolidação e a expansão da comunidade judaica dos subúrbios da Leopoldina, entre os anos 1930 e 1960. Depois, a mudança em massa para outros bairros a deixou vazia, mas o prédio simples, de janelas em basculante, foi mantido pelo médico Soil Zuchen, o último dos imigrantes originais que permanece na região.  Hoje, graças aos esforços de um grupo de antigos moradores, o templo está restaurado, tem minian aos sábados e comemorou, com um grande almoço no CIB, seus 60 anos.


Naqueles tempos, como mostra a foto acima, bris/circuncisão era um assunto simples, sem bufê nem cerimonial, que podia ser realizado em sinagoga. O bebê é Dan Sali Reznik, cercado pelo mohel Moishe Singer, pelo bisavô Tzvi Baum (conhecido como Hershel Shoichet), pelo pai Alberto e pelo avô Wolf Reznik. As fotos estão no livro Judeus da Leopoldina, edição do Museu Judaico.