4.1.09

De guerra, cessar-fogo e divergências


[Artistas e Guerra, Saul Steinberg, 1969]

A decisão israelense de enviar tropas terrestres, tanques e artilharia a Gaza, depois de oito dias de ofensiva aérea, tem levantado uma questão, entre outras, sobre o futuro próximo: a invasão vai destruir a infra-estrutura do Hamas e pôr fim aos ataques por foguetes a Israel? As previsões variam.

Perguntas instigantes, que não recorrem a adjetivos bombásticos, ajudam a refletir. Como as que foram feitas no artigo dominical do diretor da sucursal do The New York Times em Jerusalém, Ethan Samuel Bronner: é possível interromper a chuva de foguetes enquanto o Hamas mantiver o poder político em Gaza? Se o governo israelense acha que não é possível, então o verdadeiro objetivo da operação militar é destruir completamente o grupo, qualquer que seja o custo em vidas? Por outro lado, como tirar do poder um grupo que tem hoje de 15 mil a 20 mil homens armados?

Mesmo que a queda do Hamas venha a acontecer, depois de semanas ou meses de guerra, com baixas impactantes, ainda haverá perguntas incômodas, diz o jornalista do NYT. “Quem assumirá o controle [de Gaza] quando tudo isso terminar?” é uma delas.

O acirramento da disputa entre Fatah e Hamas é um dos desdobramentos da ofensiva. Outro desdobramento, segundo Khalil Shikaki, diretor do Palestinian Center for Policy and Survey Research, ouvido pelo jornal Washington Post, é o risco de que a situação se deteriore rapidamente na Cisjordânia, com a frustração e a ira voltando-se contra a Autoridade Palestina.

Também há divergências entre os que apóiam Israel, ainda que a necessidade de defesa seja uma unanimidade e ninguém engula a história, divulgada pela mídia européia, de que o Hamas usa foguetes "artesanais". Por exemplo, o Meretz, partido de esquerda israelense, defendeu a ofensiva no primeiro momento, ainda que depois tenha proclamado a urgência de um cessar-fogo, devido ao risco de Israel afundar-se no "pântano lamacento de Gaza".

Segundo notícia publicada no jornal Maariv, uma candidata árabe-palestina do Meretz desistiu de concorrer às próximas eleições devido ao apoio do partido aos ataques contra o Hamas em Gaza. Um membro do partido, Abu Vilan, afirmou: "O Meretz não é pacifista. Quando cidadãos do Estado de Israel são atingidos pelo terror, deve se dar uma resposta com toda força.... O Meretz entende que Israel deve defender seus cidadãos, sejam judeus ou árabes."

Essa informação está no excelente blog em português http://urishalaim.blogspot.com/ , de Uri Lam (desde Jerusalém). Uri é psicólogo, tradutor de livros judaicos, co-editor da coleção judaica “Povo do Livro”, em parceria com a Ed. Via Lettera. Outro blog em português, diretamente de Beeer Sheva, o de André Hamer: http://namiradohamas.blogspot.com/. Ambos têm atualizações diárias que vale a pena ler, um outro lado para o leitor cansado de pensamentos maniqueístas que nada acrescentam à compreensão dos fatos.

Reproduzo a seguir dois artigos com posições diferentes. Primeiro, um artigo para o jornal Haaretz, de Ari Shavit, um forte opositor dos assentamentos israelenses, que explica porque considera justa a guerra atual. No post seguinte, está o comunicado do grupo judaico norte-americano J Street, um dos primeiros a proclamar a necessidade de uma ofensiva diplomática que impeça a continuação dos ataques palestinos mas também evite a escalada bélica, sob o argumento de que isso é que vai garantir a segurança de Israel a longo prazo.