2.1.09

Em defesa "da razão e da moderação"

Os quatro grupos norte-americanos pró-Israel que defendem o direito de ataque às instalações do Hamas em Gaza, mas exortam o próximo governo a estabelecer negociações diplomáticas imediatas com as partes envolvidas, para evitar uma escalada militar contra-producente a longo prazo, são J Street, Americans for Peace Now, Brit Tzedek v'Shalom e Israel Policy Forum.

Esses grupos vêm se fortalecendo nos últimos anos e vão na contra-mão do que parecia, aos olhos da opinião pública, ser um senso comum judaico favorável a todas as manifestações de força militar israelense. Eles abrigam uma vasta gama de pacifistas, inclusive religiosos, liberais, gente de centro, centro-esquerda e esquerda. Como em outros países, as instituições comunitárias guarda-chuva, Jewish Council for Public Affairs e Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations, dão apoio irrestrito à ofensiva bélica.

O porta-voz do Americans for Peace Now, Ori Nir, disse: “Não vemos a questão da operação israelense como um tema preto-e-branco e inequívoco”. O grupo enviou um comunicado aos seus mais de dez mil ativistas, exortando-os a escrever para Bush e Obama (uma tradição norte-americana) defendendo a solução política e diplomática para o conflito.

Abaixo, o comunicado inicial do J Street. Quem assina é o diretor on line do grupo, Isaac Luria, cuja esposa fez estudos rabínicos em Israel e que demonstra sua perplexidade diante da cobrança de uma posição imediata. Como se o mundo fosse tão simples!!! Luria tem o mesmo nome do famoso erudito, cabalista e místico (1534-1572) que influenciou de modo marcante a vida religiosa e os costumes litúrgicos judaicos.

Há 24 horas as Forças de Defesa de Israel atacaram a Faixa de Gaza, deixando centenas de mortos e feridos – e impelindo ainda mais o persistente conflito israelense-palestino rumo a uma rota de violência interminável.

Senti uma pressão imediata de amigos e familiares para tomar partido. Eu opinava que as ações de Israel eram plenamente justificadas ou desproporcionais? O Hamas atraiu aquilo sobre si ao lançar foguetes e provocar Israel ou os ataques são um ato de agressão contra um povo preso na armadilha da miséria e da pobreza? Eu não era capaz de ver quem tinha razão e quem estava errado?

Nesse momento de profunda crise, J Street quer demonstrar que, entre aqueles que se importam com Israel e sua segurança, há um grupo que defende a razão e a moderação. Há muitos que reconhecem elementos de verdade em ambos os lados dessa divisão e sabem que aproximá-los exige um forte engajamento e liderança dos EUA.

Israel tem um lugar especial no meu coração. Vivi lá no ano passado, enquanto minha mulher estudava para se tornar rabina. Mas reconheço que nem os israelenses nem os palestinos têm o monopólio do certo ou do errado. Se nada há de “certo” em fazer chover foguetes sobre famílias israelenses ou enviar atacantes suicidas, tampouco nada há de “certo” em punir um milhão e meio de sofredores habitantes de Gaza por causa das ações dos extremistas que vivem entre eles. O que é preciso agora é ação imediata para interromper a violência antes que ela saia do controle.

Os Estados Unidos, o Quarteto e a comunidade mundial não devem esperar – como fizeram na crise Israel-Líbano de 2006 – que as semanas passem e mais centenas ou milhares de pessoas venham a morrer antes de intervirem. É preciso que seja dado um fim urgente às novas hostilidades, encerrando completamente as operações militares, inclusive o lançamento de foguetes a partir de Gaza, o que permitirá que entrem em Gaza alimentos, combustível e outros bens necessários á vida civil.

A necessidade de comprometimento diplomático vai além de um cessar-fogo a curto prazo. Oito anos da negligência e da diplomacia ineficaz do governo Bush levaram-nos diretamente a um momento em que as perspectivas de uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino estão em compasso de espera e com elas as perspectivas de sobrevivência de Israel a logo prazo como um Estado judeu democrático.

Em seguida a um cessar-fogo renegociado, exortamos o próximo governo Obama a liderar um rápido e sério esforço para alcançar uma solução diplomática abrangente para os conflitos israelense-palestino e árabe-israelense.

[...] Nossos objetivos devem ser um Oriente Médio que se mova para além dos conflitos sangrentos, um Israel seguro e aceito na região, e uma América segura graças à redução do extremismo e do fortalecimento da estabilidade. Nenhum desses objetivos se alcança com a escalada [do conflito].

Até mesmo no calor da batalha, como amigos e apoiadores de Israel, precisamos lembrar que só a diplomacia e as negociações podem pôr fim aos foguetes e ao terror e trazer a Israel segurança e paz a longo prazo. Os políticos norte-americanos já estão ouvindo as vozes daqueles que só enxergam um lado. Ajude-nos a dar voz ao grande número de norte-americanos que entendem que a justiça só será feita quando os direitos e as reivindicações de ambos os lados forem reconhecidos e for elaborada uma solução pacífica de dois Estados para esse conflito que já transcorre há um tempo longo demais.

Sabemos que muitos formuladores de políticas concordam conosco privadamente, porém hesitam em expressar seus pontos de vista em público, por ouvirem apenas o que dizem os extremistas. Esse é nosso momento de mostrar que há um apoio político real para afastar do Oriente Médio uma abordagem estreita, do tipo “nós contra eles”. A situação em Gaza não poderia ser mais urgente. Quem sabe quantas vidas mais serão perdidas antes que termine esse round de violência? Quando terminar, olharemos para trás e diremos que se tivéssemos falado antes mais vidas poderiam ter sido salvas, mais danos poderiam ter sido evitados?

Tanto quanto consigo lembrar, aqueles que enxergam o mundo em preto e branco têm prevalecido sobre aqueles que vemos as nuances do cinza. Espero que você nos ajude a mudar essa dinâmica, enviando a todos os seus conhecidos essa mensagem, depois de ter assinado nossa petição.

Muito obrigado por unir-se aos nossos esforços nesse momento difícil. Juntos, podemos conseguir o fim desse round de violência, retomar o cessar-fogo e levar a cabo um sério movimento em direção à paz entre Israel e o povo palestino.

- Isaac Luria
Diretor Online
J Street
28 de dezembro, 2008