O golem de Praga é definitivamente um ótimo negócio. O gigantesco boneco de barro que, de acordo com a lenda judaica e tcheca, foi trazido à vida no século XVI por um rabino, para proteger os judeus de perseguições, está na moda. Proliferam na cidade hotéis temáticos, réplicas, bibelôs, espetáculos musicais, etc., tudo com o nome dele, que se infiltrou até na cozinha tcheca, no menu do restaurante...Golem (não kasher).
Em tempos de crise, não podia ser diferente. É cada vez maior o número de visitantes e turistas que colocam papéis com orações e pedidos de ajuda à beira do túmulo do rabino Judá Loew ben Bezalel, criador do superpoderoso golem. Até Michelle Obama, mulher do presidente dos EUA, visitou o túmulo quando esteve em Praga com o marido. Não se sabe se ela fez algum pedido...
O rabino, um erudito respeitado, cabalista e escritor, morreu há 400 anos, em setembro de 1609. É claro que a vulgarização de seu legado, que aponta para uma espiritualidade superficial, anda irritando muita gente. O rabino-chefe da República Tcheca, Karel Sidon, por exemplo, declarou ao jornal New York Times que os atuais desdobramentos o incomodam tanto quanto a visão de hordas de turistas comprando souvenirs de Kafka nas esquinas de Praga, sem jamais terem lido um só livro dele.
Houve várias lendas talmúdicas em torno de demônios, anjos, golems e outras figuras misteriosas. No caso de Praga, conta-se que o rabino inscreveu a palavra emet (verdade, em hebraico) na testa de sua criatura, a quem chamou de José, conhecido como Iossele no gueto. Mais tarde, o homem artificial fugiu ao controle do criador, que então apagou a letra e de emet, transformando-a em met, morte, e deu-lhe eterno descanso no sótão da sinagoga.