[este artigo foi publicado na revista Menorah em abril de 2009]
Um dos dados mais curiosos da política israelense foi a eleição de Hamad Amer para o Knesset. Advogado, 43 anos, pai de três filhos, Amer pertence à minoria drusa que vive no Norte de Israel. Até aí, nenhuma novidade: outros árabes já se elegeram para o parlamento. A maior surpresa vem do fato de Amer ter se filiado não aos partidos de centro-esquerda, de tendência humanista, e sim ao ultra-nacionalista Israel Beiteinu (Israel é o nosso lar). Avigdor Lieberman, o presidente do partido, tem usado a eleição de Amer como pretexto para calar aqueles que o tacham de racista e fascista, declarando-se favorável a quaisquer minorias que aceitem o Estado judeu como tal e optem por meios pacíficos para externar suas opiniões.
Entre 20% e 50% dos drusos, dependendo da região, votaram em partidos de extrema-direita para o Knesset. Este fenômeno inclui desde os vilarejos nas colinas do Golan, ocupadas por Israel em 1967, até a comunidade de Monte Carmel, perto de Haifa.
Desde 1948, os drusos prestam serviço militar e ocupam cargos de alta patente no Estado judeu. Em 60 anos, cerca de 200 soldados drusos morreram defendendo Israel. Hoje são cerca de 120 mil cidadãos, o que perfaz 1,6% da população israelense. É um povo discreto, sem ambições nacionalistas nem a pretensão de converter o mundo ao seu credo, inspirado em valores como o apego à paz e à tolerância. São contra o proselitismo e desfrutam a amizade dos conterrâneos judeus. A comunidade de Monte Carmel, por exemplo, é bastante visitada por judeus de Haifa que vão às compras nos fins-de-semana. Outras comunidades, no interior, vivem da agricultura e mantêm suas tradições livremente. Mesma sorte não têm os drusos da Síria e do Líbano, na mira do fundamentalismo islâmico.
É claro que os drusos têm suas queixas e reivindicações, como qualquer eleitor. Alguns vilarejos beiram a pobreza, outros precisam de escolas e hospitais. Vários drusos vão trabalhar nas grandes cidades para sustentar a família, outros ingressam no serviço público. O certo é que, em todas as comunidades drusas, o apego ao Estado de Israel é notório ou até ousado. Os moradores do Golan, por exemplo, vivem às voltas com o risco de se verem devolvidos à Síria. Embora não possam dizê-lo abertamente, é uma perspectiva sombria para quem aprendeu a votar, a contar com excelentes serviços públicos, a exercer sua fé e sua cultura sem medo.
Hamad Amer não é a única minoria nas hostes de Avigdor Lieberman. Ao seu lado está Anastassia Michaeli, a primeira judia convertida a integrar o Knesset. Os dois parecem desafiar a lógica de um partido que, dentre outros radicalismos, propõe que as pessoas insatisfeitas em Israel - leia-se, os árabes israelenses - sejam pagas para deixar o país e renunciar à sua cidadania. Uma idéia afrontosa, logicamente. Espera-se que Amer e Michaeli tragam bons fluidos para o Israel Beiteinu, acenando com seus exemplos e mostrando que a democracia, embora longe da perfeição, ainda é capaz de surpreender os incrédulos.
* Ronaldo Wrobel é escritor e advogado
Um dos dados mais curiosos da política israelense foi a eleição de Hamad Amer para o Knesset. Advogado, 43 anos, pai de três filhos, Amer pertence à minoria drusa que vive no Norte de Israel. Até aí, nenhuma novidade: outros árabes já se elegeram para o parlamento. A maior surpresa vem do fato de Amer ter se filiado não aos partidos de centro-esquerda, de tendência humanista, e sim ao ultra-nacionalista Israel Beiteinu (Israel é o nosso lar). Avigdor Lieberman, o presidente do partido, tem usado a eleição de Amer como pretexto para calar aqueles que o tacham de racista e fascista, declarando-se favorável a quaisquer minorias que aceitem o Estado judeu como tal e optem por meios pacíficos para externar suas opiniões.
Entre 20% e 50% dos drusos, dependendo da região, votaram em partidos de extrema-direita para o Knesset. Este fenômeno inclui desde os vilarejos nas colinas do Golan, ocupadas por Israel em 1967, até a comunidade de Monte Carmel, perto de Haifa.
Desde 1948, os drusos prestam serviço militar e ocupam cargos de alta patente no Estado judeu. Em 60 anos, cerca de 200 soldados drusos morreram defendendo Israel. Hoje são cerca de 120 mil cidadãos, o que perfaz 1,6% da população israelense. É um povo discreto, sem ambições nacionalistas nem a pretensão de converter o mundo ao seu credo, inspirado em valores como o apego à paz e à tolerância. São contra o proselitismo e desfrutam a amizade dos conterrâneos judeus. A comunidade de Monte Carmel, por exemplo, é bastante visitada por judeus de Haifa que vão às compras nos fins-de-semana. Outras comunidades, no interior, vivem da agricultura e mantêm suas tradições livremente. Mesma sorte não têm os drusos da Síria e do Líbano, na mira do fundamentalismo islâmico.
É claro que os drusos têm suas queixas e reivindicações, como qualquer eleitor. Alguns vilarejos beiram a pobreza, outros precisam de escolas e hospitais. Vários drusos vão trabalhar nas grandes cidades para sustentar a família, outros ingressam no serviço público. O certo é que, em todas as comunidades drusas, o apego ao Estado de Israel é notório ou até ousado. Os moradores do Golan, por exemplo, vivem às voltas com o risco de se verem devolvidos à Síria. Embora não possam dizê-lo abertamente, é uma perspectiva sombria para quem aprendeu a votar, a contar com excelentes serviços públicos, a exercer sua fé e sua cultura sem medo.
Hamad Amer não é a única minoria nas hostes de Avigdor Lieberman. Ao seu lado está Anastassia Michaeli, a primeira judia convertida a integrar o Knesset. Os dois parecem desafiar a lógica de um partido que, dentre outros radicalismos, propõe que as pessoas insatisfeitas em Israel - leia-se, os árabes israelenses - sejam pagas para deixar o país e renunciar à sua cidadania. Uma idéia afrontosa, logicamente. Espera-se que Amer e Michaeli tragam bons fluidos para o Israel Beiteinu, acenando com seus exemplos e mostrando que a democracia, embora longe da perfeição, ainda é capaz de surpreender os incrédulos.
* Ronaldo Wrobel é escritor e advogado