Leia abaixo entrevista dela no site da BBC Brasil, em matéria de Rodrigo Durão Coelho sob o título de Livro de repórter da BBC retrata 'agonia' no Oriente Médio.
"Escolhi 315 textos de cerca de 5 mil. São entrevistas, análises, reportagens e boletins, uma variedade que cria dinamismo. Muitos capturam o calor do momento, trazendo personagens israelenses, palestinos e brasileiros", diz a repórter.
A capa da obra, a foto de uma pintura paradisíaca do artista britânico Banksy na barreira israelense da Cisjordânia, ilustra o que a autora chama no título de "miragem", para definir as negociações entre os dois lados.
Dividido em quatro capítulos, o livro de Flint narra de forma cronológica o que ela chama de "agonia do processo de paz" entre israelenses e palestinos.
O primeiro, intitulado O Grande Golpe, refere-se ao período entre 1995 e 1999, após o assassinato do então premiê israelense Itzhak Rabin por um extremista judeu e o primeiro governo de Binyamin Netanyahu.
Para Flint, a morte de Rabin foi um dos mais duros golpes ao processo de paz, responsável pelo aumento do extremismo nos dois lados.
O segundo capítulo, Nova Esperança, Decepção e Explosão, engloba textos produzidos entre 1999 e 2006, época dos governos de Ehud Barak e Ariel Sharon; o ínicio da segunda Intifada (levante) palestina; o aumento do número de atentados suicidas palestinos; o início da construção da barreira israelense na Cisjordânia; a morte de Yasser Arafat e a reocupação de cidades palestinas.
A terceira parte, Miragem de Processo e Duas Guerras, referente aos anos de 2006 a 2009, fala da vitória do Hamas nas eleições palestinas, as pouco frutíferas negociações entre Ehud Olmert e o líder palestino Mahmoud Abbas, a guerra no Líbano, a ofensiva de Israel contra Gaza e a expulsão do grupo Fatah do território.
O capítulo final, De Volta à Estaca Zero e Impasse, fala sobre o novo governo de Netanyahu, que assumiu novamente neste ano o cargo de premiê israelense.
Jornalista desde 1992, quando começou a escrever sobre o Brasil para a mídia israelense (em 95 inverteu os papéis, escrevendo sobre o Oriente Médio para o Brasil), Guila Flint se diz hoje muito mais pessimista em relação ao processo de paz do que era na década passada.
"Eu imaginava que o assassinato de Rabin fosse apressar a paz, que a sociedade se organizaria contra as forças fundamentalistas, contra a extrema direita", diz ela.
"Mas a ampliação dos assentamentos judaicos foi o principal fator que fez os palestinos perderem fé no processo. Por outro lado, o aumento dos atentados suicidas, entre 95 e 2003, tornou muito difícil para os pacifistas de Israel convencer a sociedade de que a paz é possível."
"Um acordo de paz hoje é mais urgente que nunca, porém mais improvável", completa.
A autora diz que, entre os textos escolhidos para seu livro, existem pitadas de humor. Ela cita a história de um assaltante israelense que roubou uma bolsa na praia de Tel Aviv e depois percebeu que, dentro do objeto furtado, carregava uma bomba.
"Ele entrou em pânico e chamou a polícia. Não só foi isento de responder pelo furto, mas foi considerado um herói, por ter salvo muitas vidas", conta Flint.
Além dos textos, o livro de 518 páginas traz ainda versões atualizadas de mapas dos assentamentos judaicos e da barreira israelense construída na Cisjordânia (Rodrigo Durão Coelho).