19.5.10

Em busca da paisagem ancestral

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Diante do passado traumático, que vem à tona mesmo quando se procura esquecê-lo, os judeus contemporâneos têm voltado no tempo e no espaço para entender “de dentro”, e não só intelectualmente, as circunstâncias que os formaram. É nesse contexto que leio “Udatchi - A árvore onde meu pai catava nozes” (editora Sefer), livro em que Michel Rosenthal Wagner, advogado paulista, conta como sua visão de mundo foi sacudida positivamente pela visita aos locais de infância de seu pai e avós (hoje na Ucrânia, antes Romênia e Áustria-Hungria), muitos deles ainda intactos no século XXI.

Segundo Michel, a viagem superou a satisfação de uma busca de raízes. Com poucas pistas, ele, que se considerava um judeu secular, diz ter encontrado mais que o aclaramento das histórias ancestrais ao passar por um “cataclismo espiritual” ao participar, em Uman, da grande festa do Ano Novo judaico, em meio a uma multidão de 28.000 religiosos reunidos nos arredores da tumba do Rabino Nachman de Breslav, bisneto de Baal Shem Tov, precursor do movimento chassídico.

Michel conheceu a sinagoga que seus avós freqüentavam em Sadagura, a casa onde moraram em Cernovitz, o restaurante e a mercearia da família, o gueto para onde foram deportados, um museu judaico. Poderia ser uma história de dor e perda, um reviver da tragédia, mas o mergulho articulou-se em torno da  "possibilidade poética, possível e prática de mudança de sentimentos de angústia para sentimentos de liberdade, tratando dos traumas geracionais que permeiam a vida de descendentes destas histórias”.

A partir da experiência, ele escreveu o livro e passou a dar palestras que estimulam as pessoas a “encontrarem suas sementes e a plantar seus próprios jardins com uma vida mais resolvida”.