26.3.09

Museu dedicado a Scholem Aleichem em Kiev


Na mesma casa de Kiev onde Scholem Aleichem (1859-1916) escreveu “Tevie, o Leiteiro”, a inauguração de um museu pelas autoridades locais foi, mês passado, um dos marcos das celebrações dos 150 anos do escritor. Manuscritos originais em idish, fotos, pertences pessoais e cartazes de apresentações das peças de Scholem Aleichem no mundo ficarão em exibição permanente.

O escritor nasceu em 2 de março de 1859 em Pereyaslav, nos arredores de Kiev. Órfão de mãe aos 12 anos, usou o linguajar rude da madrasta como inspiração para seus primeiros escritos. Mais tarde, aproveitou os moradores judeus da vizinha Voronkov, onde foi criado, como modelos para seus personagens.

Já existe, desde 1997, um monumento a Sholem Aleichem (uma estátua de bronze) em Kiev. Agora, o Banco Nacional da Ucrânia lançou uma moeda de prata e o país um selo comemorativo. Nem em seus maiores arroubos de imaginação o escritor sonharia que algum dia receberia tais homenagens em solo ucraniano, onde os judeus foram vítimas de pogroms, pobreza e, durante a Segunda Guerra, assassinatos em massa.

“A figura de Sholem Aleichem e sua contribuição literária ao tesouro da vívida cultura multiétnica da Ucrânia merecem respeito e celebração nos mais altos níveis”, proclamou Ivan Vasiunyk, vice-primeiro-ministro do país e presidente do comitê que organizou as homenagens em Kiev.

Scholem Aleichem viveu na Suíça, Itália e Alemanha antes de emigrar em 1914 para os Estados Unidos, onde virou celebridade – seus funerais em Nova York, em 13 de maio de 1916, foram acompanhados por mais de cem mil pessoas. Ficou famoso fora do mundo judaico, na segunda metade do século XX, depois que suas histórias se tornaram a base para o musical “O Violinista no Telhado”, sucesso na Broadway e em Hollywood.

Antes de Scholem Aleichem, a ficção em idish tendia ao sentimentalismo, estilo novelão com muitas lágrimas e final feliz. Com ele e seus personagens, os leitores mergulharam nas agruras do cotidiano dos judeus na Rússia e se reconheceram em temas universais, como o conflito entre a tradição e o progresso, ou entre ricos e pobres, tratados de maneira ao mesmo tempo bem humorada e profunda.