No foyer da Casa de Cultura Laura Alvim, antes de começar a peça e o shabat, tocou-se o shofar. Subimos e os atores já estavam no teatro, sentados em suas cadeiras na platéia (os “judeus” de um lado, os “nazistas” do outro), ou no palco (caso do juiz). A peça trata do julgamento de alguns chefes do campo de Auschwitz , com base nos depoimentos de sobreviventes. Esses sobreviventes trabalhavam em setores estratégicos como farmácia, carregando os mortos, ou no departamento de assuntos políticos. Através dessa teia de testemunhas, entende-se como era o dia-a-dia do local.
De tempos em tempos, tocava-se um sinal e a peça se interrompia por alguns minutos, para quem quisesse se levantar ou sair. Eu sei que fui ficando, em meio a vários momentos emocionantes, inclusive com músicas cantadas pelos “sobreviventes” e, no intervalo, reza voltada para a parede de pedra do teatro (Muro das Lamentações?). Na verdade, só notei que a peça tinha acabado quando os atores começaram a repetir o que eu já tinha ouvido. Era meia-noite e o teatro continuava cheio, agora com um público mais jovem. Cada minuto valeu a pena.
[ abaixo, chegada de mulheres e crianças judias húngaras a Auscwitz, em 1944, arquivos do Yad Vashem ]
Como o Michel, também fiquei super-emocionada (e ao meu lado pessoas não escondiam as lágrimas) com a "vigília pela vida" de Eduardo Wotzik. O espetáculo recriou parte do julgamento de Frankfurt, em 1965, que processou oficiais e funcionários menos graduados por crimes de guerra. E é uma comprovação da maturidade cultural do Rio de Janeiro essa acolhida da diretora da Casa de Cultura Laura Alvim, Lygia Marina, a uma concepção de teatro que foge do ramerrão cotidiano.
Assisti a três horas horas desse tour de force do diretor e de 40 atores: o tempo voou, apesar da náusea produzida não só pela dor das vítimas como pela ideia de que a abjeção dos carrascos jamais será suficientemente punida. O que se transplanta para outras latitudes e momentos, inclusive o atual, mas isso já é outra conversa...
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