8.4.10

Alerta na Hungria: extrema-direita antissemita ganha votos

.
Pela primeira vez desde a ascensão do nazismo, um grupo abertamente antissemita ganhou ontem número expressivo de votos nas eleições húngaras. O resultado preocupa a Europa: o partido de extrema-direita Jobbik ficou com 16,71% dos votos, entrando pela primeira vez no Parlamento já como a terceira força política do país, logo atrás dos socialistas, há oito anos no poder.

O líder do Jobbik, Gabor Vona, prometeu devolver aos húngaros seu “orgulho nacional e identidade”. O partido cresceu junto com o desemprego, a recessão econômica e as denúncias de corrupção governamental. Por ora, a coalizão de centro-direita Fidesz, que assegurou 206 dos 386 assentos no Parlamento, nega que pretenda integrar o partido a uma coalizão governamental, por considerá-lo uma “ameaça à democracia”.

Os judeus não estão sozinhos como alvo do Jobbik, que anuncia sua disposição de resolver por "meios pacíficos" o “problema dos Roma”, como são chamados os 500 mil ciganos do país, acusados pela extrema-direita de desestabilizar o tecido social.




O Jobbik -- sigla para Movimento por uma Hungria Melhor -- fundou em 2007 a Guarda Magiar, milícia paramilitar depois colocada fora da lei (mas que ainda marcha pelas ruas), cujos adeptos fazem lembrar os grupos que atuavam antes da Segunda Guerra. Vona prometeu usar seu uniforme da Guarda quando tomar posse no Parlamento.

A retórica deles é violenta e delirante. Nas últimas semanas, um boletim publicado por um importante sindicato de policiais aliado do partido informou que “devido à nossa atual situação, o antissemitismo é não só nosso direito, mas é um dever de todos os húngaros que amam sua pátria, e devemos estar preparados para uma batalha armada contra os judeus”. Outro artigo no mesmo boletim defendeu a transferência do “nosso governo sionista” para Tel Aviv, afirmando que em caso de uma guerra civil entre húngaros e ciganos (!!), os "judeus ricos" se aproveitariam para tomar conta do país rapidamente.

Ou seja, não há como negar que o antissemitismo saiu do nicho fechado e vem num crescendo. Quando o economista Gyorgy Suranyi, judeu e ex-presidente do Banco Central, foi apontado como possível  primeiro-ministro, o rosto dele apareceu em charges na mídia tradicional dentro de uma estrela de Davi amarela, reminiscência da usada durante o nazismo. Recentemente, grafites com dizeres contra os judeus apareceram em vários pontos da capital, um memorial do Holocausto foi vandalizado em Zalaegerszeg e neo-nazistas fizeram manifestação na cidade de  Tiszaeszlár, onde um libelo de sangue levou a pogroms em 1882-83.

Numa pesquisa da Anti-Defamation League há um ano, 67% dos entrevistados húngaros concordaram com a afirmação de que “os judeus têm poder demais no mundo dos negócios” e 40% disseram acreditar que “os judeus são mais leais a Israel que à Hungria”.

Uma das candidatas mais conhecidas da extrema-direta, Krisztina Morvai, reagiu a críticas dizendo: “Eu ficaria muito satisfeita se os judeus húngaros, que se dizem tão orgulhosos, voltassem a brincar com aqueles seus rabinhos circuncidados em vez de ficarem me atacando”. E uma revista publicou uma charge de um bispo segurando uma menorá com os dizeres “É isso que você quer?”