28.4.10

Leitura cabalística judaica de Clarice

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"A Escuta do Silencio e a Palavra Revelada - uma leitura cabalística judaica da obra de Clarice Lispector", monografia de Aida Lerner, nos foi enviada pela autora. Aida Lerner é professora de língua e literatura portuguesa e brasileira, radicada em Israel, e discorre sobre aspectos como a impossibilidade existencial de escapar, como teria tentado fazer Clarice, de sua condiçao judaica, inclusive pelo casamento.

Aida fala da viva chama divina, "nitzot elokit", de Clarice, e analisa alguns trechos da obra clariciana como diretamente ligados ao judaísmo, aos mistérios em torno do nome de D'us e à ética judaica. A exemplo da frase (em A Descoberta do Mundo) "A missao não é leve: cada homem é responsável pelo mundo inteiro", que se relaciona à máxima judaica "quem salva uma pessoa salva o mundo".

Embora a crítica brasileira tenha se surpreendido com algumas das recentes "revelações" do biógrafo norte-americano de Clarice, Benjamin Moser, entre elas a de que o nome da escritora era Chaia (nome hebraico comum, também grafado Haia), este era um fato conhecido - pois, queridos leitores não judeus, o judeu que aparece no registro civil como Zé ou Rosa pode ter, em hebraico, nomes como Yosef ou Rivkah. Diz Aida:
"A partir do seu nome hebraico (Chaia, que significa vida, ou, mudando-se os pontos, se refere ao corpo, em linguagem cabalistica, e no linguajar comum tem o sentido de animal ou fera), de sua vida e do seu texto, onde a exaustao enfatiza a força do seu inconsciente e da identidade que lhe é proibida ou desconhecida, atrevo-me a crer que o mistério se origina em sua dramática condição judaica jamais explicitada".
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