15.6.08

Adriana Armony e Tatiana Salem Levy: memória em boa ficçao



Depois da revelação que foi a gaúcha Cíntia Moscovitch, que provoca risos e lágrimas com seus personagens problemáticos, é a vez de Tatiana Salem Levy e Adriana Armony ocuparem lugar de destaque na prateleira das boas escritoras. Judite no País do Futuro, de Adriana, e A Chave de Casa, de Tatiana, têm em comum a memória ancestral sefaradi, recriada ficcionalmente, e a imigração familiar para o Brasil na primeira metade do século XX. Aqui, a etnia não avulta, é antes o pano de fundo de um cotidiano que abrange dos primeiros tempos à contemporaneidade, com fartura de amores, dores, convívio social e busca de identidade. As autoras, segunda geração nascida no Brasil, criam um universo que, afastado dos guetos religiosos e sociais, se integra ao mundo ao redor sem perder suas características identitárias, com personagens que não cedem ao folclore, ainda que haja odores e sabores judaicos nas suas páginas.


As duas são doutoras em Literatura e vivem no Rio; Adriana, 39 anos, dá aulas no Eliezer-Max e no CEAT, Tatiana, 29 anos, é também tradutora. Seus livros são tocantes tanto pelo texto burilado de quem bebeu em boas fontes quanto pelo conteúdo realmente humano, sem objetivos edificantes. Adriana usa a vida da avó, imigrante de Sfad, na Palestina, como inspiração para a primeira parte do livro. A dona Judith real viveu aventuras incríveis, desde a viagem de navio aos 13 anos, sozinha, até o estabelecimento com o marido no Nordeste, em terras por onde passou Lampião, acabando por trabalhar como professora de hebraico em escolas do Rio. A segunda e a terceira parte do livro são pura ficção, em ritmo rápido, evocando amores impossíveis e inserção nas mudanças, inclusive políticas, pelas quais passam o país e a cidade.