29.6.08

Ídiche, memória e atualidade












“O ídiche ainda não disse sua última palavra”
– foi o que declarou o escritor Isaac Bashevis Singer ao aceitar o prêmio Nobel de Literatura em 1978. Trinta anos depois, constata-se que a frase não era apenas retórica. Existem duas vertentes no ídiche do século XXI: por um lado, cerca de 800 mil judeus ortodoxos do mundo usam a língua para sua comunicação cotidiana, inclusive em Israel, já que consideram o hebraico a língua sagrada. Por outro lado, toda uma geração de judeus laicos de origem européia nascidos no pós-guerra, e para a qual o ídiche fazia parte de um universo desaparecido, voltam a se interessar pela língua como símbolo cultural e recuperação de raízes. Isso acontece em vários países, com aulas de música klezmer, cursos, lançamento de livros e novas traduções de escritores judeus.

No Brasil, três iniciativas recentes são as traduções de dois livros de ficção produzidos aqui e o lançamento de "Ídiche - Uma Introdução ao Idioma, Literatura e Cultura", de Sheva Zucker, obra publicada nos Estados Unidos que ganha tradução e reorganização de Genni Blank, e que é um "aprendizado sem mestre" do idioma, incluindo dois CDS, glossários, anedotas, provérbios, entrevistas, canções com letras e partituras e exercícios para a prática e o real aprendizado do ídiche. Genni Blank também apresenta um útil dicionário ídiche-português e português-ídiche, com mais de 3.000 palavras.

Os dois livros de ficção são "Novos Lares" (editora de Cultura) e "O Conto Ídiche no Brasil" (editora Humanitas). Este é uma compilação de relatos de imigrantes judeus da primeira metade do século XX, que observam o país com um olhar ao mesmo tempo esperançoso e desconfiado. Entre os autores, estão a pioneira Clara Steinberg, fotógrafa e intelectual que viveu no Rio, e Adolfo Kishinievsky, que viveu em Nilópolis e também foi o autor de "Novos Lares" (Naie Heimen), primeiro livro em ídiche publicado no país, em 1932, em tradução atual de Nachman Falbel e Sara Morelenbaum. Muitos dos contistas ora apresentados, cujas obras estavam dispersas, foram militantes ou simpatizantes de movimentos de esquerda, o que amplia a compreensão do leitor contemporâneo acerca do multifacetado universo judaico.

Arte na praça em Cracóvia




Memorial às vítimas do gueto, em forma de enormes cadeiras de bronze, na Plac Bohaterow Ghetta.



Cracóvia se prepara para o alto verão com uma vasta programação cultural, o que inclui um Festival de Cultura Judaica, que começou sábado e vai até 6 de julho, com música, dança, exposições, teatro. Uma das exposições, na Velha Sinagoga da rua Szeroka, mostra obras de artistas judeus poloneses que viveram na cidade entre 1873 e 1939. As marcas da Segunda Guerra e do Holocausto convivem com uma nova realidade, em que o histórico bairro de Kazimierz, por exemplo, virou um point sofisticado, cheio de cafés, casas noturnas e lojas de moda. Foi naquele local que os nazistas instalaram, em 1941, um gueto que chegou a ter 17 mil moradores judeus, a maioria dos quais mortos nos campos de concentração.

Noites de verão com cheiro de jasmim

Nascida em Alexandria, a jornalista e pesquisadora Joëlle Rochou acompanha, no recém-lançado livro “Noites de verão com cheiro de jasmim” (editora FGV), a trajetória de um grupo de judeus que imigrou daquela cidade para o Rio de Janeiro logo após a crise do Canal de Suez, em 1956. O conjunto dos relatos mostra a intolerância e a xenofobia do século XX e indica como a experiência da “estrangeiridade” se transmite de uma geração a outra. Vários dos imigrados, conta a autora, continuaram a se sentir estrangeiros ainda que tenham sido bem sucedidos na sua inserção na sociedade brasileira, pois tinham vivido não só entre dois mundos, mas às vezes entre mais de dois mundos, já que vinham de um país em que falavam francês, italiano, inglês e árabe e tinham Paris ou Londres como referências culturais. Por mais que tivessem sido bem acolhidos aqui, os judeus de Alexandria até hoje sentem saudades dos hábitos, cores, sabores e odores da pátria de origem...

22.6.08

Partisans judeus na Bielorrússia



O filme, candidato ao Oscar, vai estrear em dezembro, mas a indústria cinematográfica já está promovendo "Defiance", dirigido por Edward Zwick e estrelado pelo inglês Daniel Craig: trata-se da história dos três irmãos judeus partisans que organizaram uma bem sucedida resistência contra a invasão nazista da Bielorrússia. Craig, que já foi James Bond, faz o papel do líder Tuvia Bielski, cujos pais foram mortos pelos nazistas e que, não obstante seu carisma, teve grande dificuldade inicial de convencer os judeus de Nowogrodek a fugirem para a floresta como alternativa à deportação e à morte.

Em 1943, dois anos depois do início da resistência, havia na floresta mais de mil pessoas, inclusive crianças, mulheres, velhos e doentes. Bem armados, os irmãos Bielski patrocinavam incursões contra as tropas nazistas a partir da comunidade que construíram do zero e que logo passou a funcionar com escola, clínica, tribunal e sinagoga, além de oficinas de reparos. Quando o comandante soviético da região sugeriu, diante do avanço alemão, que Bielski dividisse a comunidade entre militares e civis, para que os incapazes de lutar não prejudicassem as chances de sobrevivência dos demais, ele rejeitou a sugestão e penetrou mais ainda na floresta. Ao final da guerra na Bielorrrúsia, no verão de 1944, mais de 1.200 homens, mulheres e crianças saíram da floresta e entraram marchando em Nowogrodek, onde há hoje um memorial em homenagem aos judeus locais mortos durante a invasão nazista. Em 1945, Tuvia foi para a Palestina; em 1956, emigrou com a mulher e os filhos para os Estados Unidos, onde morreu aos 81 anos.

A história do heroísmo dos irmãos Bielski foi contada em detalhes por Jack Kagan e Dov Cohen no livro "Surviving the Holocaust with the Russian Jewish Partisans".

Arte em Israel

[Obra de Sigalit Landau(2008)]

O Museu de Israel (Israel Museum) em Jerusalém é o maior do país, visita obrigatória para quem gosta de arte e História, e um dos mais importantes do mundo no que se refere a acervo arqueológico e etnografia judaica. Sua coleção mais visitada é a dos Manuscritos do Mar Morto, os manuscritos bíblicos mais antigos do mundo (século 2 a.C.). Mas o Museu, que está passando por uma extensa renovação, também tem galerias e salões com todo tipo de arte contemporânea. Como parte do projeto Sessenta Anos de Arte em Israel, o Museu está apresentando um panorama da arte no país na última década, com trabalhos de 40 artistas jovens: são pinturas, esculturas, fotos, vídeos e instalações que também podem ser vistas on line em www.imjnet.org.il . A apresentação da exposição informa que em Israel, como no restante do mundo, a última década testemunhou o aparecimento de novos suportes e a criação de obras de arte sofisticadas e tecnicamente meticulosas, que combinam beleza e dimensões freqüentemente vastas para produzir experiências visuais e emocionais poderosas.

Samuel Rawet, escritor dilacerado


Ler Samuel Rawet, cujos "Ensaios Reunidos" são lançados agora pela Editora Civilização Brasileira, é um mergulho num universo de permanente estranhamento e incomunicabilidade. A obra, organizada por Rosana Kohl Bines e José Leonardo Tonus, complementa o volume da ficção rawetiana que, publicada pela mesma editora, inclui de textos mais lineares, como "Contos do Imigrante", livro de estréia de 1956 aclamado pela crítica, até o denso e difícil "Viagens de Ahasverus à terra alheia em busca de um passado que não existe porque é futuro e de um futuro que já passou porque é sonhado".

Nascido na Polônia em 1929 e educado em cheder, o menino que só falava idish ao chegar ao Rio de Janeiro, aos sete anos, veio a dominar todas as nuances da língua portuguesa. Erudito capaz de mesclar gíria e latim num mesmo parágrafo, Rawet foi engenheiro e, como membro da equipe de Oscar Niemeyer, o principal calculista do Congresso Nacional, em Brasília, cidade onde morreu. Possuía uma profunda “alma judaica”, ainda que tenha declarado seu rompimento com o judaísmo num texto contundente que sedimentou seu afastamento da comunidade.

Interpretado ao pé da letra, atribuiu-se-lhe um suposto auto-ódio judaico que não é confirmado pelos textos nem pelo reconhecimento das fontes em que bebeu, como Spinoza e Martin Buber. O que acontece é que o escritor nunca se atribuiu o papel de transmissor da cultura ancestral e criticou sem piedade o meio judeu em que viveu durante a juventude. Além disso, “matou” o pai e os irmãos, figurativamente, mas é bom lembrar que a literatura registra isso desde Édipo... Sua atitude nos remete à famosa frase de Hannah Arendt a Gershom Scholem (“ ...os erros cometidos pelo meu próprio povo naturalmente me causam mais dor do que os erros cometidos por outros povos”)e nos faz pensar que se ele tivesse nascido três décadas mais tarde teria podido expressar suas angústias sem ferir os bons modos.

Uma resenha sobre o livro, publicada no caderno Prosa & Verso em O GLOBO de sábado, 21.06.2008, pode ser lida em http://www.oglobodigital.com.br/

15.6.08

Shemá em missa portuguesa

Desde que uma amiga portuguesa me enviou o popularíssimo vídeo (um dos mais procurados do site youtube, com mais de 200 mil visitas em um ano) do padre Júlio Grangeia liderando seus fiéis cantando Shemá Israel durante a missa, fiquei curiosa. Como isso chegou a acontecer? Perguntei a ele, e sua resposta foi direta e simples:

“Quando da minha visita à Terra Santa, na companhia de alguns colegas sacerdotes católicos, o guia que orientou nossa peregrinação ensinou-nos precisamente essa oração que os judeus rezam (...). Nas minhas paróquias, achei interessante ensinar essa oração aos cristãos até porque, apesar das diferenças que temos com os judeus, não podemos ignorar que temos uma parte da Bíblia em comum. É certo que para nós, cristãos, a importância que damos à "Torá" não é a mesmo que vós dais, mas isso não quer dizer que não valorizemos o que nos liga e aproxima... e daí cantarmos a mesma verdade em que vós também acreditais... Sempre que nas missas se fala do Deus em que acreditamos, que é único e não há outro, o cântico do Shemá torna-se quase inevitável.”

Cliquem aqui para uma amostra da missa com Shemá. http://www.youtube.com/watch?v=hWDn4jDUYso

Adriana Armony e Tatiana Salem Levy: memória em boa ficçao



Depois da revelação que foi a gaúcha Cíntia Moscovitch, que provoca risos e lágrimas com seus personagens problemáticos, é a vez de Tatiana Salem Levy e Adriana Armony ocuparem lugar de destaque na prateleira das boas escritoras. Judite no País do Futuro, de Adriana, e A Chave de Casa, de Tatiana, têm em comum a memória ancestral sefaradi, recriada ficcionalmente, e a imigração familiar para o Brasil na primeira metade do século XX. Aqui, a etnia não avulta, é antes o pano de fundo de um cotidiano que abrange dos primeiros tempos à contemporaneidade, com fartura de amores, dores, convívio social e busca de identidade. As autoras, segunda geração nascida no Brasil, criam um universo que, afastado dos guetos religiosos e sociais, se integra ao mundo ao redor sem perder suas características identitárias, com personagens que não cedem ao folclore, ainda que haja odores e sabores judaicos nas suas páginas.


As duas são doutoras em Literatura e vivem no Rio; Adriana, 39 anos, dá aulas no Eliezer-Max e no CEAT, Tatiana, 29 anos, é também tradutora. Seus livros são tocantes tanto pelo texto burilado de quem bebeu em boas fontes quanto pelo conteúdo realmente humano, sem objetivos edificantes. Adriana usa a vida da avó, imigrante de Sfad, na Palestina, como inspiração para a primeira parte do livro. A dona Judith real viveu aventuras incríveis, desde a viagem de navio aos 13 anos, sozinha, até o estabelecimento com o marido no Nordeste, em terras por onde passou Lampião, acabando por trabalhar como professora de hebraico em escolas do Rio. A segunda e a terceira parte do livro são pura ficção, em ritmo rápido, evocando amores impossíveis e inserção nas mudanças, inclusive políticas, pelas quais passam o país e a cidade.

Percurso de Tatiana



O percurso de Tatiana a leva à Turquia, terra dos avós, e a Portugal, onde nasceu durante o exílio dos pais e berço ancestral idealizado dos sefaradim que,
expulsos no século XV, espalharam-se pelo Império Otomano. Seu texto é fragmentado e emprega múltiplas vozes com maestria.

Carregando consigo a simbólica chave do lar perdido (chave que está sempre à mão porém não abre portas concretas; abre, sim, a possibilidade de encontrar as raízes e entender-se a partir delas), a autora e seu alter-ego trafegam com altivez por situações extremamente dolorosas, como a doença, agonia e morte da
mãe e a rudeza de um amante cruel. A vida não é apenas dor, porém sem dor não há escrita nem se sai do lugar, reflete Tatiana em seu mergulho existencial, fazendo o leitor mergulhar com ela.

Desde os tempos de Alexandre














A jornalista, fotógrafa e editora Márcia Cherman Sasson visitou recentemente o Museu Judaico da Grécia, em Atenas, um pequeno prédio de sete andares muito bem organizado pelos remanescentes de uma comunidade milenar praticamente dizimada na Segunda Guerra.

Aqui, o relato de Márcia:

“O Museu, inaugurado em 1977, abriga uma vasta coleção de objetos domésticos (ferramentas, amuletos, artefatos), objetos religiosos, roupas, adereços e sapatos usados do século 18 a meados do século 20, além de documentos e fotografias que contam os mais de dois mil anos de presença judaica naquela região. No andar onde ficam as roupas e adereços, há vestidos de noiva, jóias, trajes infantis e adornos para os diversos rituais da vida judaica, como o brit milá e o bar mitzvá. O interior do Museu tem formato octogonal e no último andar uma cúpula de vidro deixa a luz natural iluminar o ambiente. Ali fica uma área para palestras, sala de estudos, arquivo fotográfico e biblioteca. Espaços multimídia dão aos visitantes a oportunidade de assistir a exibições sobre a contribuição da comunidade judaica grega no estabelecimento do Estado de Israel.

Além do acervo, o Museu comporta uma réplica do interior de uma pequena sinagoga romaniota (segundo historiadores, romaniotas são os judeus que vivem na Grécia desde os tempos de Alexandre. Outra explicação diz que eram parte do Império Romano e que foram escravizados após a destruição do Segundo Templo. Não são considerados sefaradim, pois estes foram para a Grécia após a expulsão da Península Ibérica).

Um andar inteiro é dedicado ao Holocausto. Roupas dos campos de concentração, fotografias, documentos e itens diversos pertencentes à população levada para os campos de extermínio estão expostos; há uma exibição permanente de um vídeo que mostra a libertação dos prisioneiros dos campos”.

3.6.08

NOSSA MOTIVAÇÃO

Obras de arte, documentos, instalações multimídia, literatura, cinema, teatro, música,comportamento: a multiplicidade de manifestações culturais e artísticas que têm, no mundo inteiro, ligações com o judaísmo confirmam a imensa diversidade judaica contemporânea. Para dar conta de algumas notícias desse universo plural, em que a adesão às representações do presente não prescinde do olhar atento ao passado, vamos usar a partir de hoje este espaço informal. A participação de todos vocês, com posts e fotos, é mais que bem-vinda.

»Típico! Clichês de Judeus e Outros« (»typisch! Klischees von Juden und Anderen«).





Com esse título, a exposição organizada pelos Museus Judaicos de Berlim (onde fica até 3 de agosto) e Viena (primeiro semestre de 2009) é daquelas que a gente gostaria de ver por aqui. Até porque tem tudo a ver com a luta brasileira contra qualquer tipo de discriminação. A mostra situa o anti-semitismo no quadro mais amplo das ideologias racistas do século XX. Os estereótipos do cartaz são uma síntese de algumas caracterizações unidimensionais dos “outros”. O olhar que só enxerga chavões vê tudo de maneira unilateral: o judeu com seu narigão fálico, o negro de riso simplório, o oriental malévolo e por aí vai... Nesse ponto, que atire a primeira pedra quem nunca desprezou ou temeu o que lhe parece estranho!
Já o desenho do judeu de cachinhos está na capa do catálogo da exposição, à venda por 25 euros (veja mais em www.juedisches-museum-berlin.de)


P.S. – A exposição estará também no Spertus Institute, Chicago, de 26 de setembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009.

Holografische Pletzel, emoção do idish em instalação contemporânea



Instalação holográfica com imagens de pessoas que parecem interagir com o público, falando e cantando em idish. Uma imagem de menorá acesa e brilhante sempre presente no meio do saguão sobre um pedestal real. Isso é o que você pode ver em São Paulo até o próximo dia 19 de junho (no Centro de Cultura Judaica, Rua Oscar Freire, 2.500 - Sumaré - CEP 05409-012 - São Paulo, SP) A obra é do premiadíssimo artista Otávio Donasci, paulista, 53 anos, diretor de criação e de espetáculos multimídia e vídeo-performances apresentados em festivais no país e no exterior e criador, com o diretor Ricardo Karman, das Expedições Experimentais Multimídia (Viagem ao Centro da Terra e A Grande Viagem de Merlin), gigantescos espetáculos interativos envolvendo teatro, turismo e artes plásticas. Muito do que ele fez e faz está no site www.videocreatures.com


Como eu fiquei curiosa em entender de que maneira Donasci pensou a difícil síntese entre o high tech e uma língua milenar, ele explicou que o high tech para ele sempre esteve a serviço da emoção e não da tecnologia pela tecnologia. Por isso, ele nem se considera tão high tech assim, gosta de dizer que é low tech. E acrescentou:
"Usei minha linguagem processual de criação de performance e pedi pessoas específicas que falassem bem o idish. A generosidade e a espontaneidade delas, com idades e vivências diferentes fizeram o trabalho, apenas não atrapalhei suas expressões e extravasamentos de coração nessa língua que elas amavam e dominavam tão bem de modo vivo e coloquial... A instalação foi chamada de Pletzel (ou pletzele) por uma contribuição dessas pessoas, que me disseram que ali parecia uma pracinha onde os mais antigos se encontravam no Bom Retiro na década de 50 no fim da tarde, para descontraidamente fazer fofocas e colocar os assuntos em dia. Foi um privilégio poder conviver com essas pessoas e suas memórias maravilhosas,comoventes e engraçadas. Espero que todos possam sentir isso também.

O conjunto da obra de Donasci – que não é judeu, mas é fã de Mel Brooks, Woody Alen, os irmãos Zucher , Seinfeld e dezenas de outros humoristas judeus -- é grande. Ele é professor de Artes do Corpo da PUC-SP, onde também contribui para o estudo e o desenvolvimento da performance como arte independente. Suas últimas instalações multimídia, além da que está no CCJ, estão no no Sesc 24 de maio ("Cara do Brasil"), no Shopping Center Norte ("Ilha do Tesouro"). Até semana passada ele tinha um cenário inflável ("Cascata Arco Iris") na fachada do Conjunto Nacional, domingo teve um Carinhódromo (Penetrável performático interativo) no Conjunto Nacional apoiando a luta anti-Aids, e na próxima semana vai ter sua videoperformance com VideoCriatura apresentada no Sesc Pinheiros no Actamídia.

Novo museu em São Francisco: brinde à vida e ao futuro



Um museu único, sem coleção permanente e focado na atividade cultural, o Museu Judaico Contemporâneo de São Francisco [San Francisco Contemporary Jewish Museum] completa vinte anos inaugurando, em 8 de junho, um novo prédio, com espaços especialmente projetados para exibição de filmes, concertos e aulas de arte. O arquiteto foi o famoso Daniel Libeskind (vencedor do concurso para construir o novo World Trade Center, em NY, e responsável pelo Museu Judaico de Berlim e o Museu Judaico Dinamarquês). Ele aproveitou uma antiga subestação de energia da cidade para erguer em torno dela o que já é considerado um símbolo da arquitetura contemporânea mais dinâmica, tanto do ponto de vista da forma como da idéia que há por trás dela.

Libeskind, que manteve uma das fachadas da subestação naquele tijolinho tradicional, criou um cubo de aço azul metálico pontilhado por 36 janelas (número de sorte...) que representam as letras da expressão l’chaim (à vida). O cubo “muda” de cor conforme a hora do dia, a posição do observador e até a temperatura ambiente. O arquiteto disse, em várias entrevistas, que esse foi um projeto que olhou para o futuro e não para o passado, daí não ter feito referências à memória do Holocausto, por considerar que este faz parte da História do judaísmo europeu mas não é o centro dos projetos que animam o judaísmo norte-americano (que, como se sabe, é eclético e incorpora os símbolos da tradição sem tratá-los como dogmas). É claro que o estilo do capitalismo made in USA de fazer doações ajudou na empreitada: o museu de São Francisco custou US$ 47,5 milhões, provenientes de várias fontes. Para saber mais sobre as exposições de abertura – uma delas mostrando a arte do genial William Steig, pai do Shrek – visite o site
http://www.thecmj.org/