15.10.08

Oitenta anos de Scholem Aleichem (o colégio, não o escritor!)




[fotos de “delegação” do Scholem Aleichem à Embaixada de Israel, 1958, e do professor Moysés Genes nas Olimpíadas Intercolegiais de 1971, na Hebraica].

Há pessoas cuja marca vai crescendo com o tempo, até se tornar lenda e ponto de inflexão para novas avaliações históricas. Esse é o caso do professor Moysés Genes, que dirigiu o Colégio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem de março de 1948 a julho de 1973. Não que ele, homem modesto, tenha buscado esse tipo de reconhecimento; mas o fato é que seu trabalho intenso, sua paciência e sua obstinação (ou teimosia, diriam os adversários) foram essenciais para um projeto pedagógico judaico laico muito bem sucedido durante décadas. O projeto do Scholem (que existiu também em outras cidades) floresceu com a utopia da construção do socialismo e decaiu em meio à acentuação das divergências no seio da esquerda e à mudança na mentalidade das classes médias judaicas.

Se não tivesse encerrado as atividades em 1995 (com a responsabilidade sobre o patrimônio entregue ao colégio Liessin, que vendeu o prédio da rua Professor Gabizo), o Scholem estaria completando 80 anos. O 80º. aniversário (junto com os 89 anos do professor Genes, como ele é chamado) será celebrado em festa na Hebraica no dia 1º. de novembro. Quem freqüentou o Scholem, meu caso, recorda como ele foi importante para congregar várias centenas de famílias que queriam dar aos filhos uma educação judaica aberta, democrática, baseada em cultura e não em religião. Ali, o levante do gueto de Varsóvia era um momento heróico muito próximo, sempre emocionante. O que não significava, na visão do professor Genes, obedecer, sobretudo depois da Guerra dos Seis Dias, à posição anti-sionista dos primórdios do judaísmo progressista. Isso, e muito mais, é o que ele mostra no alentado livro de memórias que lançou em 2002, O 11º. Mandamento (Editora Espaço e Tempo).

Para quem tem menos de 40 anos, as dezenas de entrevistas que o livro contém, além das reflexões e dos relatos de fatos, comprovam que a história do povo judeu é muito mais complexa do que sugerem os rótulos aprisionadores. O pertencimento cultural e a ética podem incorporar a fé sem colocá-la no centro do universo. Assim, não é contraditório que o professor Genes abra seu texto com os Dez Mandamentos, e acrescente o décimo primeiro, “Dirás sempre a verdade”, que ele criou para nortear a própria vida.

Para quem passou dos 40 anos, e viveu a juventude na Tijuca e arredores, o livro, e a festa que se prepara na Hebraica, são uma tremenda viagem "amarcord"...