23.10.08

Retratos da Segunda Guerra







Acima, Carlos Scliar, artista plástico que serviu na FEB (Força Expedicionária Brasileira), em inaguração de uma exposição às vésperas do embarque para a Itália, em 1944. E obras da série Cadernos de Guerra, inclusive auto-retrato (1945), nanquim sobre papel.

O cabo de artilharia Carlos Scliar, nascido em 1920 em Santa Maria da Boca do Monte, Rio Grande do Sul, desenhava até em papel de pão tudo o que observava no front italiano [no que seria a série Cadernos de Guerra]. O jovem que se tornaria um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros é um dos personagens do livro Soldados que vieram de longe – os 42 heróis brasileiros judeus da Segunda Guerra Mundial, recém-lançado pelo professor Israel Blajberg, engenheiro e membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.

O olhar sensível de Scliar não se voltou para cenas de batalhas nem gestos heróicos, mas para a gente simples e as paisagens do campo, ou para seus companheiros. Nas palavras do escritor Rubem Braga, então correspondente de guerra, os desenhos eram “evocações sóbrias” que comoveriam, “longe no tempo, os homens que viveram a bela e amarga aventura”.

Dos 42 soldados brasileiros judeus relacionados por Israel Blajberg, 13 ainda estão vivos. Filhos de imigrantes, eles nunca constituíram um grupo, pois a maioria não se conhecia. O livro recolhe deles as histórias que considera importantes. Como a do tenente de artilharia Salli Szajnferber, que participou do mais sangrento combate da FEB, com 574 baixas entre mortos e feridos, e foi o responsável por efetuar a prisão de 200 alemães.

Há casos como a repercussão da convocação dos irmãos Alberto e Moyses Chahon. A mãe deles, Matilde Gammal Chahon, a quem fora concedida a possibilidade de indicar apenas um dos filhos para ir à guerra, anunciou sua decisão, exaltada pela imprensa patriótica da época: “... ou vão os dois ou não vai nenhum ...”

Outra história é a do sargento de infantaria Jacob Perlmann, de Niterói: falando em ídiche a prisioneiros alemães, disse-lhes que poderia atirar neles, mas não o faria. "Se fossem vocês que tivessem me aprisionado, teriam me matado aqui ou num campo de extermínio, pois sou brasileiro e judeu. E é exatamente por ser brasileiro e judeu que não vou fazer isso com vocês".