“A questão do Oriente Médio costuma ser reduzida ao conflito entre palestinos e israelenses, no qual todos os árabes apoiam, pelo menos na retórica, os primeiros, e os países desenvolvidos do Ocidente – especialmente os EUA – dão sustentação a Israel. Este modelo binário de interpretação, no qual eram delineados apenas dois lados, é ainda uma herança do maniqueísmo que caracterizava muitas das análises políticas durante o período da Guerra Fria. Mas o Oriente Médio é exemplo típico do que não pode ser tratado num esquema binário, mas no plano da complexidade”.
Assim começa o artigo de Dina Lida Kinoshita e Esther Kuperman cuja íntegra pode ser lida na revista on line Versus [ www.versus.ufrj.br/vs_n1/vsn1_debate.html ], do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O título faz alusão ao livro Sem Olhos em Gaza, de Aldous Huxley, que por sua vez aludia a um verso do poeta inglês John Milton sobre Sansão, o herói bíblico escravizado e cegado pelos filisteus.
“Contrariando Huxley, mostramos que é possível ver a paz nos arredores de Gaza”, dizem as autoras. Kinoshita é doutora em Física, professora da USP e membro do Conselho da Cátedra Unesco de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância. Kuperman é historiadora, doutora em Ciências Sociais e membro da Coordenação dos Amigos Brasileiros do Paz Agora.
Elas lembram que não se pode analisar a situação atual no Oriente Médio sem levar em conta a mudança de poder em Washington. O diálogo já em curso com setores que o ex-Presidente Bush definia como “as forças do mal”, inclusive o Irã, pode acarretar grandes mudanças na região e o esvaziamento do discurso da segurança, dizem. Além do mais, não se pode esquecer que a descarbonização energética prometida pelo governo Obama pode diminuir, num futuro nem tão distante, a importância estratégica do Oriente Médio, relativizando antigas alianças.