30.4.09

Lerer Tabak, um professor muito especial


por Rose Esquenazi, jornalista)

Pejsach Tabak, mais conhecido como lérer (professor) Tabak, nasceu em 1908, na impronunciável Ojdrietyze, Polônia. Em 1934, aceitou o convite para dar aulas para a comunidade judaica no Brasil, enfrentando um grande desafio. Ele iria deixar a cidade de Lublin, onde lecionava, e rumar para o desconhecido Rio de Janeiro, deixando toda a família na Europa. Curiosamente, as boas vindas no navio, no dia da chegada ao Brasil, foram dadas por Sara Goldstein, que viria a ser a sua mulher e grande companheira de toda a vida.

Sara chegara três anos antes ao Brasil. Nascida em Widz, na Polônia, localidade próxima à Vilna, chamada de “Jerusalém da Lituânia”, mudou-se com a família para a Sibéria, onde pôde estudar. Ao voltar para a cidade natal, percebeu que o antissemitismo era crescente e ameaçador. Os alunos judeus não podiam se sentar nos mesmos bancos dos poloneses nem cursar a universidade.

No Brasil, Sara representou a sociedade de imigração judaica Hias, que protegia as mulheres que chegavam ao país desamparadas e sem documentos. Essas moças, muitas vezes, eram alvo de máfias de exploradores de mulheres. Eles costumavam iludir jovens judias que vinham de vilarejos pobres da Europa, muitas vezes com promessas de trabalho digno e até casamento.

No Rio, Pejsach e Sara tomaram a iniciativa de reerguer o Colégio Scholem Aleichem, fundado em 1928 por um grupo de ativistas sociais. Nos bons tempos, esse estabelecimento de ensino teve a direção do fabulista Eliezer Steinbarg.

Mas, em 1934, o colégio passou por difíceis crises financeiras e mudou várias vezes de linha pedagógica. Sara e Pejsach se casaram nesse mesmo ano e também enfrentaram dificuldades. Para reerguer o colégio, lérer abriu mão de seu salário durante um ano. Por essa razão, o casal decidiu morar em uma dependência do próprio colégio, então na rua Paula Souza. Os alunos começaram a chegar e os pais passaram a confiar no trabalho feito pelo educador. Pejsach não se limitava à educação formal: promovia, junto com os demais professores, concertos, conferências e academias literárias. Agora, as crianças podiam aprender idish, história e cultura judaica.

Anos mais tarde, o colégio mudou de endereço. Na Rua Ribeiro Guimarães, 178, na Aldeia Campista, passou a contar como a participação dos pais, que se tornaram ativistas. O caráter da escola foi definido nas palavras de Pejsach Tabak:

“Moderna em sua metodologia educacional, laica e humanitária em seu espírito. Além disso, fazia questão, através das disciplinas judaicas, folclore e canto das festas tradicionais, de cultivar nos alunos o amor ao Brasil, ao povo brasileiro e à sua cultura, com interesse pelo seu progresso e bem-estar”.


Colégio Eliezer Stainbarg, 1959 (arquivo da família)


Em 1946, depois da Segunda Guerra, Pejsach e os ativistas que o acompanhavam decidiram fundar uma nova instituição de ensino. O projeto incluiria a Casa do Povo, onde haveria a ampliação das atividades culturais. Assim nasceu o Instituto Israelita Brasileiro de Cultura e Educação. Na direção central, havia 42 pessoas muito especiais. Em suas rápidas memórias, o lérer faz questão de citar os “inesquecíveis Tuli Lerner e Isaac Coiffman”.

Curiosamente, o grande arquiteto Oscar Niemeyer ofereceu um projeto para a Casa do Povo, que seria instalada no terreno comprado na Rua Haddock Lobo, na Tijuca. Infelizmente, este projeto não foi preservado, nem na casa da família Tabak nem no escritório de Niemeyer. Talvez devido a uma reviravolta no final de 1951. O Scholem passou por uma crise ideológica e, ao não concordar com as “tendências radicais” (stanilistas), Pejsach mudou-se com a família para Israel.

A não-adaptação ao país obrigou a volta ao Brasil e, no fim de 1952, o casal empreendeu nova campanha financeira para fundar um novo colégio: o Eliezer Steinbarg. Instalado na Rua das Laranjeiras, o espaço passava a abrigar também o Coro Israelita Brasileira e o Grêmio do Instituto Israelita Brasileiro de Cultura e Educação. Começava assim uma nova etapa na vida educacional e cultural na colônia israelita do Rio de Janeiro.

* Rose Esquenazi é nora do lérer Tabak. Ele teve dois filhos, Israel, jornalista, e Lea, professora.