30.4.09

Um século de Rita Levi Montalcini

A mais idosa detentora de um prêmio Nobel, Rita Levi Montalcini fez cem anos semana passada, cercada de homenagens do governo italiano e de seus pares. Ela ainda trabalha em seu laboratório de pesquisas biomédicas e disse à imprensa que se sente mais inteligente hoje do que quando era estudante. Graças à plasticidade neural, o cérebro não envelhece como o corpo, desde que se mantenha em atividade, garante. Ainda quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, desde que estimulados por trabalho, curiosidade, paixões...

Nascida em Turim numa família judia burguesa, Rita se escondeu quando o governo fascista de Mussolini impôs restrições aos judeus, durante a Segunda Guerra, e viveu um tempo fora do país. Tornou-se uma das mais respeitadas neurocientistas da atualidade. Em 1986, dividiu o Nobel de Medicina com o norte-americano Stanley Cohen pela descoberta dos mecanismos que regulam o crescimento celular, o que vem a ter consequências para as pesquisas ligadas a doenças do envelhecimento, como o mal de Alzheimer.

A cientista diz, no livro Elogio da Imperfeição[Editora Nobel, São Paulo, 1991, tradução de Marcella Mortara & Valerio Mortara], que o nazismo e o fascismo apelaram ao cérebro “emocional” dos povos alemão e italiano, conduzindo-os sem apelar para a razão.

“A razão é filha da imperfeição dos seres humanos. Nos invertebrados, tudo está programado: eles são perfeitos. Já nos seres humanos, imperfeitos, o recurso à razão e à ética se tornou essencial, o mais alto grau de evolução darwiniana”.
Sobre sua recusa ao papel que a família esperava dela, lembra:
"Desde menina tive o empenho de estudar. Meu pai queria me casar bem, que fosse uma boa esposa, boa mãe... E eu não quis. Fui firme e confessei que queria estudar...Meu estimulo foi também o exemplo do médico Albert Schweitzer, que estava na África para ajudar com a lepra. Desejava ajudar aos que sofrem, isso era meu grande sonho!”
[hoje Rita Levi Montalcini apóia projetos que ampliam a escolaridade das meninas em países africanos].