Duas peças que podem ser vistas no Rio nesse fim de semana, Ecos da Inquisição, de Miriam Halfim, e O Interrogatório, de Peter Weiss, não são apenas "históricas", pois a discussão sobre intolerância e totalitarismo continua atual. O diretor da primeira (que fica até o fim do mês no Centro Cultural da Justiça Federal) é Moacir Chaves, para quem a Inquisição é um tema contemporâneo:
"A distância temporal esconde a permanência da Inquisição. Distância, aliás, nem tão grande assim", diz ele. "O Santo Ofício só foi extinto em 1821. Além disso, temos bem perto de nós diversos parentes próximos da nefanda instituição. Para não nos estendermos muito, fiquemos com o advento do Nazismo e seu produto final, o Holocausto. A Inquisição? Aconteceu anteontem. A escravidão? Foi ontem. E suas sequelas constituem marcas indeléveis da sociedade brasileira, como a gritante desigualdade social e a desvalorização do trabalho".
Eduardo Wotzik, diretor de O Interrogatório, de Peter Weiss, que volta ao Rio no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico (só em 4, 5 e 6 de dezembro), diz que a peça é “ uma maravilhosa oportunidade de nos lembrarmos que um Estado construído na ignorância está facilmente sujeito à bestialidade”. Para ele, “a miséria espiritual e física, a pobreza, o analfabetismo, a falta de humildade, a ignorância, a falta de noção de cidadania, do limite do outro e de ética, levam à destruição do meio ambiente externo e interno do homem”.