O texto ganhou uma montagem criativa e nada ortodoxa. O diretor optou por mesclar às informações históricas elementos contemporâneos e díspares, a exemplo do som quase permanente da cuíca (e também do tamborim, do repique, do agogô) pontuando as cenas, inclusive as mais dramáticas, e da indígena nua passeando sobre a mesa e sendo alvo da cobiça do inquisidor. Os figurinos também não são de época.
O estranhamento produzido por essa opção ressalta o fosso entre dois mundos (e entre as classes dominantes e as dominadas de qualquer época, ou, como diziam os pernambucanos, entre os cavalcantis e os cavalgados): de um lado, o trópico "caliente" e descontrolado, hiper-sexualizado, do outro os costumes ibéricos e as justificativas para perseguir quem desafia regras. Mas não há bonzinhos nesse enredo: até a índia se vinga fazendo denúncias. E tudo é contado pelo notário, prototípico "homem sem qualidades" cuja rotina é preservada às custas das iniquidades que ele vê se desdobrarem à sua frente. Não fossem suas tiradas de humor e o notário se tornaria um personagem odioso, apesar de medíocre...
São três os momentos retratados: a prisão de acusados por denúncias de sodomia e bigamia na primeira visita do Santo Ofício ao Brasil, a condenação ao desterro do Padre Antônio Vieira e a prisão do dramaturgo Antônio José da Silva, nascido no Brasil e levado preso para Lisboa, onde morreu na fogueira.
Um aspecto interessante do texto é a preocupação didática da autora, que tem dez peças contempladas em diferentes concursos de dramaturgia no Brasil. Quem assistir a "Ecos da Inquisição" vai rir, e celebrar a vida, mas também vai aprender que, dentre as 61 mil pessoas condenadas pela Inquisição em três séculos, 31.350 foram "purificadas" pelo fogo. Haja heresias! E haja denúncias! Detalhe: o Santo Ofício estimulava a delação, prendia e torturava, mas não matava. As execuções, quando necessárias a bem da ordem vigente, eram sempre feitas pelas autoridades seculares de Lisboa...
Um aspecto interessante do texto é a preocupação didática da autora, que tem dez peças contempladas em diferentes concursos de dramaturgia no Brasil. Quem assistir a "Ecos da Inquisição" vai rir, e celebrar a vida, mas também vai aprender que, dentre as 61 mil pessoas condenadas pela Inquisição em três séculos, 31.350 foram "purificadas" pelo fogo. Haja heresias! E haja denúncias! Detalhe: o Santo Ofício estimulava a delação, prendia e torturava, mas não matava. As execuções, quando necessárias a bem da ordem vigente, eram sempre feitas pelas autoridades seculares de Lisboa...