Robi Damelin, membro do Círculo de Pais, Fórum das Famílias
Ao fim do Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio("Promovendo o diálogo israelense-palestino - um ponto de vista sul-americano"), em 27 e 28 de julho no Rio, ficou claro que é longo o caminho a ser percorrido. Até os cisnes do Itamaraty sabem que o intrincado xadrez geopolítico da região passa longe da influência da mídia, motivo do Seminário... Mas foi enriquecedora a troca de opiniões no evento, organizado pelas Nações Unidas, e os discursos do Ministro do Exterior Celso Amorim e do assessor para assuntos internacionais do Presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, foram convergentes e moderados (como convém a um país em campanha por um lugar no Conselho de Segurança da ONU).
A relevância de palavras e de imagens sobre corações e mentes, especialmente no tocante a situações que mexem com o imaginário étnico-religioso, os direitos humanos e o sofrimento de civis, consolidou-se com o fecho perfeito para o Seminário: a apresentação de duas pequenas versões do premiado e comovente documentário Ponto de Encontro, co-dirigido pela brasileira Julia Bacha e por Ronit Avni. Estiveram no Rio dois de seus protagonistas, a israelense Robi Damelin e o palestino Ali Abu Awwad, ambos membros do Círculo de Pais – Fórum das Famílias, grupo que reúne cerca de 500 famílias enlutadas dos dois lados.
O documentário mostra como cidadãos comuns se levantam das cinzas da dor mais profunda para buscar vias de reconciliação em vez de ceder aos clamores por vingança (David, filho de Robi, fo morto por um franco-atirador palestino; o irmão mais velho de Awwad foi morto por um israelense)e às palavras de ordem políticas. Ela, que um dia emigrou da África do Sul para Israel, percorre, sempre com um parceiro palestino, comunidades e escolas do seu país e dos teritórios ocupados, e também viaja pelo mundo, pregando a necessidade de mediação e paz (veja mais em http://www.justvision.org/)
A relevância de palavras e de imagens sobre corações e mentes, especialmente no tocante a situações que mexem com o imaginário étnico-religioso, os direitos humanos e o sofrimento de civis, consolidou-se com o fecho perfeito para o Seminário: a apresentação de duas pequenas versões do premiado e comovente documentário Ponto de Encontro, co-dirigido pela brasileira Julia Bacha e por Ronit Avni. Estiveram no Rio dois de seus protagonistas, a israelense Robi Damelin e o palestino Ali Abu Awwad, ambos membros do Círculo de Pais – Fórum das Famílias, grupo que reúne cerca de 500 famílias enlutadas dos dois lados.
O documentário mostra como cidadãos comuns se levantam das cinzas da dor mais profunda para buscar vias de reconciliação em vez de ceder aos clamores por vingança (David, filho de Robi, fo morto por um franco-atirador palestino; o irmão mais velho de Awwad foi morto por um israelense)e às palavras de ordem políticas. Ela, que um dia emigrou da África do Sul para Israel, percorre, sempre com um parceiro palestino, comunidades e escolas do seu país e dos teritórios ocupados, e também viaja pelo mundo, pregando a necessidade de mediação e paz (veja mais em http://www.justvision.org/)
No mais, não houve (nem se esperava) consenso. A ausência do prefeito de Gaza, à última hora impedido de viajar ao Rio, foi lamentada pelos israelenses, que tinham planejado discutir com ele vários pontos de projetos sanitários já prontos e com recursos alocados. Os projetos não foram implantados devido ao boicote do Hamas, informou o prefeito de Ashkelon – e esse tipo de informação dividiu a platéia, microcosmo da polarização que o tema Israel-Palestina produz.
A maioria dos judeus presentes vibrou quando Yacov Achmer, do Canal 1 da TV israelense e especialista em assuntos internacionais, criticou as exigências palestinas, alegando que elas mudam à medida que Israel faz concessões. Depois de perguntar que Palestina a OLP queria libertar antes de 1967, ironizou a suposta neutralidade jornalística, declarando-se, nessa ordem, judeu, israelense e jornalista.
Já a esquerda e os árabes aplaudiram Gideon Levy, colunista do jornal israelense Haaretz, para o qual nenhuma negociação irá adiante sem a retirada de Israel dos assentamentos e o fim de políticas humilhantes (como os postos de controle). Levy afirmou que a ocupação não teria se mantido sem a colaboração da mídia de seu país, “que está inteiramente a serviço do governo”.
Diante do argumento de que a mídia israelense é ideologicamente plural, divulgando todo tipo de avanço comportamental e escândalo governamental (inclusive escapadas sexuais de ministros), Levy apontou que quando se trata de segurança nacional e de árabes ela torna-se caudatária das posições oficiais e reforça percepções. Deu um exemplo recente: numa mesma edição um grande jornal divulgou com destaque, e foto na primeira página, a história da morte do cachorro de estimação de um soldado israelense e jogou para a página 14 a morte de palestinos numa incursão militar de Israel.
É claro que nenhum palestino morador de Gaza faria, sob risco de represálias, esse tipo de autocrítica impiedosa! Foi com palavras cautelosas, pois, que alguns participantes garantiram que sua mídia não pertence ao Hamas, não quer o Hamas... mas convive com o Hamas. Portanto, nada de discutir censura: eles e elas ressaltaram a questão dos refugiados e de Jerusalém, reclamaram da existência de 11 mil prisioneiros palestinos em Israel e protestaram contra sua falta de liberdade de movimentos e o estrangulamento econômico de sua população civil.
Na contextualização reside um dos nós da informação sobre o Oriente Médio. Como explicar certas peculiaridades da região ao público, sobretudo na América Latina? Como discutir fotografias de crianças mortas por bombas? Andrew Whitley, diretor do escritório da UNRWA (Relief Works Agency for Palestinians) levantou questões como essa. Para ele, a mídia deveria olhar mais “sob a superfície” ao reportar o conflito, já que a reiteração de estereótipos não serve ao interesse de ninguém e deslegitima o outro. Daí a importância de todas as pontes, mesmo pequenas, como as que esse Seminário estabeleceu entre interlocutores tão variados (israelenses, árabes, brasileiros, argentinos, egípcios, norte-americanos).