28.7.10

Museu Chagall em Nice

Marc Chagall "recebeu" dos franceses esse museu em sua homenagem ainda em vida, um caso singular. A sala com as obras que parecem pular da Biblia  é emocionante...e por mais que se tenha visto o artista em locais distintos, e em obras mais grandiosas, esse lugar é especial, o azul dos Alpes Maritimes, antessala da Provence, brilhando do lado de fora, no alto e no mar, e a gente pensando na perenidade da arte, e na vitalidade desses homens geniais que sobreviveram aos maiores contratempos (para não falar nas tragédias do século XX). No momento, o Museu Chagall tem uma mostra especial sobre o direito e o avesso, o lado reverso das coisas... Mais em http://www.musee-chagall.fr/.

No mais, estou "en vacances" e volto no fim de agosto, hopefully! 

Brunch musical

Recebi de Marcel Gottlieb: 

Carissimos,

Estarei fazendo um Brunch musical, em que o tema é a musica judaica. Quem se interessar deve reservar o mais breve possível, porque só tem lugar para 20 pessoas.

Coloco a seguir (como sempre) os vídeos que serão passados.

Está ótimo, não é necessário conhecimento musical, nem de cultura judaica, ao contrário, está feito para que possamos abrir mentes em outros horizontes:

"Contribuição Judaica ao Mundo da Música - ontem e hoje"

Pianistas: Rubinstein, Horowitz, Barenboim
Violinistas: Heifetz, Oistrakh, Shaham
Compositores: Gershwin, Simon & Garfunkel

[]'s
Marcel


Programação:

Pianistas do passado:

1. Chopin: Polonaise "Heroica", Op.53
Arthur Rubinstein
Pasadena, CA - USA 1980

2. Schumann: Traumerei - Kinderszenne
Vladimir Horowitz
Moscou, Russia 1986

Pianista do presente:
3. Chopin: Noturno em ré menor, Op.27 n.2
Daniel Barenboim
Teatro Colón, Buenos Aires, Argentina 2000

Violinistas do passado:

4. Paganini: 24o Capricho Op.1
Jascha Heifetz
New York, USA 1954

5. Sibelius: Noturno Op.51 n.3
David Oistrakh
Hall do Conservatório de Moscou, Moscou 1972

Violinista do presente:
6. Sarasate: Fantasia sobre "Carmen" de Bizet Op.25
Gil Shaham
Berlim, Alemanha 1997

Compositor do passado:
7. Gershwin: "Summertime", da ópera "Porgy and Bess"
Kathleen Battle
Metropolitan Museum, New York USA 1991

Compositores do presente:
8. Simon & Garfunkel: "The Sound of Silence"
Paul Simon & Art Garfunkel
Central Park, New York USA 1981

13.7.10

Um Bibliotecário Escravo - de Paulo Blank *

Sentados ao redor da mesa de jantar e deixando o pensamento vagar por diferentes assuntos, os amigos aproveitavam a noite fresca da casa em Botafogo quando alguém, achando a conversa um tanto vadia, infiltrou uma palavra-bomba disfarçada de pergunta inocente. Permaneci calado e fingi que não era comigo. Existem assuntos que, na minha idade, evito discutir. Sem considerar o meu silêncio, uma delas correu atrás do meu olhar e quando o encontrou disse cheia de certeza que, em definitivo, entendeu o problema palestino depois de ter assistido “Nossa Música”, um filme do Godard. Segundo concluiu de um diálogo do filme, a razão de tudo era a falta de poetas em Israel. Dito isto calou-se à espera da minha reação.

Entretido com a sobremesa e com a taça de um saboroso Tokai que o anfitrião compartilhava conosco, levantei o olhar da torta alemã e respondi que aquilo não era pergunta, era resposta. Pensando em voltar a me ocupar do  néctar reluzindo na taça de cristal, dei,inutilmente, a pergunta por respondida.Nem bem retomei a trajetória do garfo em direção à torta quando fui impedido de prosseguir no meu gesto por uma explosão que encheu a noite de gritarias que não pararam mais. Palavras como sionismo e nazismo eram pitéus saboreados com raro prazer apesar da sobremesa tão elogiada. Um dos presentes, antropólogo recém chegado do estrangeiro, quando foi possível, comentou que em suas viagens pelo mundo cansou de ver este assunto, o conflito Israel e palestinos, tirar do sério muitos intelectuais de renome, tornando-os incapazes de qualquer julgamento equilibrado. Coisa que considerei normal.

Em plenos anos dourados, eu era um garoto que brincava carnaval no bloco do sujo e corria com a meninada sobre o chão de pé de moleque na vila em que vivíamos na Rua de Sant’Anna da Praça Onze. Ali, bem no centro do Rio, volta e meia me perguntavam por que não me benzia quando passava um enterro. Quando a minha mãe, judia polonesa que fugiu de sua querida Varsóvia em julho de 1939, me flagrou tentando dar uma resposta à pergunta persistente, vaticinou com ar de quem conhecia aquela prova: “Não adianta, eles não vão te entender”.

Quando ela usava a palavra “entender” eu já sabia que ela estava me dizendo que existem situações onde a razão não funciona. O ouvinte, prisioneiro de alguma crença, não consegue alcançar o entendimento do outro. O outro deixa de fazer diferença, faça ele o que fizer. Talvez tenha sido por isso que a Sarita,uma amiguinha da vila e muito mais inocente do que eu, quando quis aderir à malhação do Judas, foi afastada por ser judia e assassina de Deus. Enquanto isto, respaldado na sabedoria materna, eu só saia de casa no sábado de Aleluia depois de ver o fantoche de pano abandonado bem em frente da nossa porta para acabar de arder. Quando as labaredas terminavam e os ânimos se acalmavam, eu voltava à brincadeira na rua passando por cima das cinzas que a mãe varreria no abrigo da noite.

Hoje, teimando em desobedecer à Dona Malka, me pego pensando se as crianças da vila de Sant’Anna não estariam dramatizando um ritual onde acusavam e puniam os judeus pelo crime de matar um Deus que, isso ninguém lhes contava, era tão judeu quanto Judas? Submetendo Judas às pauladas e ao fogo, repetiam o que no passado foi feito aos judeus vingando o assassinato de Deus. Trabalho mental e cultural onde as palavras precisam denunciar e disfarçar com a ajuda de jogos e ritos o mesmo ódio que a qualquer hora pode explodir na mente de pessoas equilibradas. Como aconteceu na Europa culta e racionalista na segunda guerra mundial.

Será que o Ocidente conseguirá um dia desfazer a judaização do judeu enquanto sinônimo de maldade? A palavra judiar não desvela uma cultura que fundiu maldade-satanás-judaísmo numa cadeia de significações cravada no seu mundo mental e afetivo? No Pessach os judeus não costumavam raptar um menino cristão e assassiná-lo com os mesmo suplícios do Deus-menino-Jesus? Na sexta feira da paixão de Cristo, quando depois dos sermões o povo invadia o bairro judeu para vingar com sangue e fogo o eterno morrer e ressuscitar de Jesus, o que faziam não era tornar real o drama encenado na vila de Sant’Anna? Não foi Santo Agostinho que, a propósito de Jesus e os Judeus, ensinou que estes “coroaram-no de espinhos, aviltaram-no cuspindo-lhe na face, flagelaram-no, transpassaram-no com uma lança” acrescentando que, com “na sua dispersão e sua desgraça são um povo testemunha do demônio e da verdade cristã, subsistem para a salvação da nação cristã, mas não para a própria”. Foi assim que ele criou a doutrina do Povo Testemunha.

Os Judeus deveriam sofrer sem ser destruídos para validar permanentemente a verdade da Igreja. Mas, ao ditar esta razão, aceita, difundida e aprimorada ao longo dos séculos, sem perceber, Agostinho equiparava o suplício dos judeus ao sofrimento do Jesus que eles reviviam em seus corpos submetidos à dor. Agostinho, o grande pensador católico, também desenvolveu outra doutrina que se tornou importante na historia das relações da igreja com os de Israel. Segundo aquela doutrina eles seriam o “Bibliotecário Escravo” carregador das antigas Escrituras para provar que estas caducaram na medida em que o filho mais novo triunfara sobre o mais velho.

Diante de tal imaginário cultural quem sou eu para tentar conversar sobre um conflito que arranca as pessoas de seu equilíbrio racional em qualquer lugar do mundo ocidental e cristão?

Bem que a minha mãe me avisou.

( Rio, entre 2007 a 2008 )

Paulo Blank é psicanalista e escritor.

11.7.10

Memória da AMIA

A luta contra a impunidade no caso da AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina) prossegue, 16 anos depois do atentado de 18 de julho.  

Há uma exposição na própria
AMIA, da artista plástica Agustina Galarraga, sobrinha de uma das vítimas; um mural em frente ao edifício da  SIGEN, Sindicatura General de la Nación; o popular Centro Cultural Recoleta exibe "Acciones por la Memoria", integrada por diferentes objetos que a AMIA produziu nos últimos anos em cada aniversário; e o Centro Cultural Rojas mostra fotografias feitas logo depois do atentado.  


Um novo objeto foi criado  pelo Laboratório Elea: trata-se de um álcool em gel que convida a pessoa a livrar-se dos germes, sem lavar as mãos, metáfora da luta para que o tema não seja esquecido e os criminosos sejam punidos. O objeto será distribuído pelas cadeias FarmaPlus e TKL.


Abaixo, post no site http://www.pluraljai.com.ar/  
(de José Adaszko)

ERAN padres, hijos, tíos, abuelos, sobrinos, amigos, vecinos, estudiantes, obreros, amas de casa, profesionales. PUDIERON SER padres, abuelos, tíos, amigos, vecinos, estudiantes, obreros, amas de casa, profesionales.
 
Se cumplen 16 años del criminal atentado terrorista de AMIA.
 
MEMORIA Y JUSTICIA son dos componentes esenciales en la historia de los pueblos.
 
VERDAD, MEMORIA Y JUSTICIA, sin esas premisas ninguna sociedad tiene futuro, por lo cual una vez mas las reclamamos.
 
Primero fue la Embajada de Israel. Luego la AMIA. Sin el esclarecimiento y la condena a los culpables siempre la sociedad Argentina estará expuesta a un nuevo magnicidio.
 
La impunidad tiene la misma gravedad que el atentado por lo cual exigimos: VERDAD, MEMORIA Y JUSTICIA. Por las víctimas del atentado, por el futuro de nuestros hijos y nietos, clamamos por: VERDAD, MEMORIA Y JUSTICIA.

Ópera em Tel Aviv

Do meu querido "correspondente" em Tel Aviv, o brasileiro Moises Rosenberg, recebo o vídeo que em uma semana foi assistido por 200 mil pessoas no youtube.

4.7.10

Crucificação - Imagens inéditas em museu judaico

(Chagall - Apocalipse em Lilás)


Cross Purposes - Shock and Contemplation in Images of the Crucifixion. Com esse título, a galeria Ben Uri, do Museu de Arte Judaica de Londres, produziu uma pioneira exposição (em cartaz até 19 de setembro). É a primeira vez que um museu judaico no mundo mostra a representação da crucificação, tema evitado até o fim do século XIX pelos artistas judeus (e pelos islâmicos).

Na mostra estão representados 21 artistas do século XX, entre eles os judeus Samuel Bak (sobrevivente do Holocausto, lituano, vive hoje em Israel), Emmanuel Levy (inglês) e Marc Chagall (com o quadro recentemente descoberto 'Apocalypse en Lilas'). As obras expostas fogem da iconografia estritamente religiosa, em geral edificante, para dar lugar a expressões de angústia e a comparações que envolvem questões políticas. O público se inquieta e se espanta.

O quadro de Emmanuel Levy, de 1942, foi um  protesto em sua época, auge da Segunda Guerra, quando muitos artistas judeus ingleses se exasperavam diante da demora do seu governo em admitir publicamente o extermínio dos judeus na Europa.

Cristo com o xale ritual e os filactérios na cruz, a palavra ‘Jude’ (‘Judeu’) escrita em sangue acima de sua cabeça, e as fileiras de cruzes brancas compondo a paisagem, ecoam o martírio de cristãos, mas também o martírio judaico, já que no momento da pintura milhões estavam sendo enviados à morte nos campos de extermínio.

A galeria possui outros importantes artistas judeus ingleses, como Solomon J. Solomon, Mark Gertler e Jacob Epstein. O quadro mais popular de Emmanuel Levy ali é (ao lado) Dois Rabinos com as Tábuas da Lei.

Israelenses desaprovam ultra-ortodoxos

Uma pesquisa de opinião pública divulgada pelo jornal Jerusalem Post em 02.07. mostra que 58% dos israelenses apoiam um governo de coalizão nacional que inclua o Kadima, mas não os partidos ultra-religiosos, que nas últimas semanas estiveram no centro de questões legais e levaram milhares de pessoas às ruas em protesto.

Entre os entrevistados, 95% dos que se declaram seculares e 62% dos ortodoxos moderados desaprovaram os haredim (ultra-ortodoxos). Segundo a pesquisa, 83% dos israelenses judeus consideram injusta a luta dos pais ashkenazim ultra-ortodoxos para separar suas filhas das meninas sefaradim na escola Emmanuel, um caso que provocou polêmica. Ademais, 75% da população apóia a decisão da Suprema Corte de extinguir, do orçamento de 2011, o financiamento para alunos de yeshivot casados. A Suprema Corte determinou que o financiamento público dos religiosos configura uma discriminação, já que esse tipo de pagamento não é feito aos alunos de universidades.

"Os israelenses não estão mais dispostos a aceitar a venda do sionismo e do futuro de Israel aos partidos haredim através de acordos políticos dúbios. Está na hora do Primeiro-Ministro Netanyahu ouvir o clamor popular e estabelecer um governo de unidade nacional capaz de fazer emergir uma revolução civil extremamente necessária", disse o rabino Uri Regev, diretor da Hiddush – Pela Liberdade Religiosa e a Igualdade em Israel. "Esse é um momento de emergência. O caráter democrático e sionista de Israel está sob ataque. Netanyahu tem que dizer aos partidos haredim:  Basta!".

A pesquisa foi feita em 27 e 28 de junho.