Uma língua de mortos. Idioma anti-segredo, a sibilar no espelho
seu eco de cova no indo-europeu ainda.
Todas aquelas bocas costuradas, milhões de bocas e mais nenhuma.
Onde haverá céu para suportar tantas vozes elevadas?
Onde encontrar a malícia, aquela impertinência duradoura?
(Luz do leste reprojetada em tumbas: sintaxe que se sente
em casa. Expulsa
e vai: expulsa.)
Palavras não são coisas nem pessoas.
São um nada, uma piada, uma praga, um lamento surdo
um exílio.
E essa morte infinita, multiplicada,
boca contra boca ouvido contra ouvido
boca e olvido — verme, terra e vernáculo.
Vozes submersas: e eu petrificado, gaguejando minha mudez-cimento.
Uma calma forjada: porque se eu soubesse conversar com as sombras,
se eu mastigasse as palavras, e delas um suco que não fosse áspero escorresse abrindo os diques da memória,
irrigando os rios-palavras,
fertilizando campos do idioma —
aí sim: eu estaria mais só do que já estou.
[Logocausto, Leandro Sarmatz. Editora da Casa, 2009]