28.7.08

Talmud no MP3


Apesar das recentes manifestações violentas contra uma loja de Jerusalém que ousou anunciar o MP4 (que baixa vídeos) num jornal ultra-ortodoxo, a comunidade não se opõe à tecnologia (ao menos, não à tecnologia controlável) e aderiu ao MP3, ferramenta de grande poder disseminador. A organização Kol Halashon construiu uma enorme áudio-biblioteca na cidade, com arquivos de milhares de palestras sobre Torá, Talmud e halachá (lei judaica). As palestras estão em hebraico, inglês, espanhol, ídiche, francês e russo. Nas ieshivot de Israel, os alunos sentam-se no computador para baixar conferências ou músicas hassídicas em seus MP3.

Um aluno de ieshiva contou ao jornal israelense Haaretz que baixou o Talmud inteiro e que o MP-3 é seu melhor companheiro: "Quando viajo, ouço palestras. Esse era um tempo perdido. A compra valeu a pena, porque todo os meses eu me preparo para um exame de 30 páginas do Talmud e posso ganhar uma bolsa de estudos graças ao MP3”.

Segredos do judaísmo para chineses

É difícil explicar para um chinês o que é um judeu, mas ambos compartilham o conceito do guanxi – que significa, literalmente, “relacionamento” (a rede de contactos que ajuda nos negócios e na vida cotidiana): a explicação está num bem humorado ensaio de Gabriel Wildau, professor norte-americano que vive em Beijing, para o site http://www.jewcy.org/ A familiaridade com o conceito permite a alguns chineses reconhecer que o judaísmo não é simplesmente uma cultura ou uma religião. Em geral, porém, os chineses não conhecem os judeus, apenas dez mil em 1,3 bilhão de habitantes. E, quando conhecem, diz Wildau, pensam que são um grupo minoritário de origem norte-americana e que tem também um país, Israel.

Se Wildau informa que as raízes do judaísmo são similares às do cristianismo, seu interlocutor invariavelmente lhe pergunta por que ele não freqüenta uma igreja. “Meu primeiro instinto é dizer que não sou um judeu observante, que sou secular. Mas essas duas noções complexas não têm tradução precisa para o mandarim”, conta ele, que eventualmente freqüenta a sinagoga Chabad local, para encontrar outros judeus expatriados, comer e beber, ainda que não se identifique com o rabino nem saiba rezar.

Atualmente, conta ainda Wildau, a Ásia, e não só a China, foi inundada por livros de auto-ajuda que prometem revelar os “segredos de negócios dos judeus”, entre eles sobrenomes famosos, como os Rotschilds. Alguns títulos: "The Eight Most Valuable Business Secrets of the Jewish" [Os oito segredos de negócios mais valiosos dos judeus] "The Legend of Jewish Wealth" [A legenda da riqueza judaica], "Jewish People and Business: The Bible of How to Live Their Lives" [O povo judeu e os negócios: a Bíblia de como viver a vida deles] "Jewish Entrepreneurial Experience and Business Wisdom" [Experiência empreendedora judaica e sabedoria empresarial].

Centenário de Samuel Malamud


Memorialista preciso, fonte de todos os pesquisadores da vida judaica no Rio de Janeiro da primeira metade do século XX, o advogado e escritor Samuel Malamud, que foi também o primeiro cônsul honorário de Israel no Brasil, terá seu centenário de nascimento celebrado no próximo dia 4. Uma das palestrantes do evento, Maria Consuelo Cunha Campos, escritora e professora de literatura da UERJ, ressalta que memórias são um gênero que não envelhece. “Lembrar-se é fundamental no judaísmo e aqui no Rio o grande memorialista da comunidade é Samuel Malamud. Seu arquivo é uma verdadeira preciosidade”.

Memórias são, também, multifacetadas, o que as torna ainda mais fascinantes. Por e-mail, Adolfo Berditchevsky, carioca que hoje vive em Israel e é um ótimo contador de “causos” da comunidade, recorda uma vinheta de Malamud que diz muito, em poucas palavras, sobre as condições de vida dos imigrantes: “... chegou da Europa diretamente para uma das mais charmosas pensões da Praça XI: cada quarto tinha três camas beliche, numeradas com o nome do “morador”. O inquilino enviava suas cartas à família com seu endereço na nova pátria: Shloime Pipik, Rua Benedito Hipolito,10 -Q.2/cama 4. Prrraça 11-Rio, Brasil - América do Sul."

Álbum de viagem: Barcelona





Construída no século XIII, a sinagoga mais antiga de Barcelona foi registrada pela câmera do nosso amigo Michel Mekler, ex-diretor do Museu Judaico. A sinagoga, que durante séculos serviu a outros fins, foi redescoberta em 1987 por medievalistas. Eles conseguiram verificar que o exterior visível da construção ainda cumpria a exigência de que uma das frentes estivesse voltada para Jerusalém e começaram a fazer uma campanha pró-restauração. Em 1995, o imóvel esteve a ponto de ser vendido para servir de bar, o que provocou um movimento consistente de resgate por parte de lideranças judaicas e catalãs. A pequena sinagoga, construída sobre restos de muralhas romanas, fica no antigo Bairro Judeu, na esquina de Carrer Sant Domènec del Call com a Carrer Marlet. Veja mais sobre a presença judaica na Catalunha no site http://www.calldebarcelona.org/

16.7.08

Arte roubada por nazistas: ainda faltam donos


O Museu de Arte e História do Judaísmo, em Paris, acolhe, até 26 de outubro, uma exposição com 53 obras roubadas pelos nazistas de colecionadores judeus ainda não identificados. Para quem não vai viajar, dá para ter uma idéia do que é este belo museu em http://www.mahj.org/

Entre os quadros, recuperados pelos franceses depois da Segunda Guerra, há obras de pintores consagrados como Cézanne, Delacroix, Ingres, Matisse, Monet e Seurat. A jornalista brasileira Leneide Duarte-Plon conta, em matéria para a Folha de São Paulo (13 de julho), que a exposição mostra os diferentes processos de apropriação praticados pelos nazistas e também fala da maneira com que foram feitas as restituições no pós-guerra, seja aos grandes colecionadores, como a família Rothschild, seja a outras famílias que puderam comprovar a origem das obras. Ainda restam 2.000 obras de donos desconhecidos sob a guarda de museus franceses.

A noiva não era judia

A célebre pergunta “Então você não vai se casar com uma moça judia?”, motivo de dezenas de piadas do humor judaico, foi feita por uma repórter de um jornal judeu de Los Angeles a Robin Tyler antes do seu casamento civil com Diane Olson, sua companheira há 15 anos. Há um mês, em 16 de junho, a Suprema Corte da Califórnia aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e, com bom humor, Robin, militante dos direitos civis há 40 anos, comentou:

-- Quando a repórter me perguntou, por mail, o que eu achava de casamento fora do grupo, respondi: “Se mulheres querem casar com homens, por mim tudo bem!” Ao telefonar para continuar a entrevista, a repórter disse que se referia a casamento entre pessoas de fés diferentes. Como não sou estúpida, a primeira resposta em que pensei foi que nós duas acreditamos no mesmo poder superior.

O casamento religioso de Robin e Diane Olson, que não é judia, foi celebrado pela rabina Denise Eger na sinagoga reformista Kol Ami.

Casamenteiros em crise?

Tamara Snyder, repórter do Jewish Week, publicou no Wall Street Journal um artigo em que fala da tensão pela qual estão passando as mulheres ortodoxas solteiras nos EUA. Os casamenteiros dizem que o “mercado” é favorável aos homens, não só por uma questão quantitativa, mas porque eles, aos 30 anos, podem namorar moças de 18, deixando as mais velhas sem muitas opções. As mães de filhos em idade de casar aumentaram suas exigências, explica Tamara, citando Michael Salamon, psicólogo e autor de “The Shidduch Crisis: Causes and Cures" (2008), para o qual as pressões do namoro estão criando entre as moças vários tipos de problemas sociais, como distúrbios alimentares e de ansiedade.
“Eu costumava desprezar esse tipo de conversa. O genocídio em Darfur é uma crise; ser solteira aos 23 anos não é”, diz Tamara, que é da comunidade ortodoxa. “Mas a pressão comunitária é difícil de ignorar. O judaísmo ortodoxo, como a maioria das fés tradicionais, destina-se às famílias, e os solteiros não desempenham um papel fundamental”. Segundo Salamon, o índice de divórcios entre jovens ortodoxos norte-americanos aumentou 30% na última década.

Lituânia terá museu judaico


Se o cronograma funcionar, um grande museu judaico será inaugurado em 2013 em Vilna. Segundo o Primeiro-Ministro da Lituânia Gediminas Kirkilas, o projeto pretende ao mesmo tempo atrair turistas ocidentais e melhorar a imagem do país. A instituição será financiada pelo governo lituano, a prefeitura de Vilna e investidores privados de vários países, com o valor da obra estimado em 75 milhões de euros. Os famosos Hermitage de São Petersburgo e Guggenheim de Nova York emprestarão ao novo museu peças do seu acervo.

A Lituânia tinha uma população judaica de 220 mil pessoas antes da Segunda Guerra e a maior parte dela morreu durante a ocupação nazista.

10.7.08

David Gorodovits e a Espiral do Tempo


Como indica a aparentemente paradoxal expressão "nestes dias, daquela época" ("Baiamim Hahem, Bazeman Haze"), parte das bênçãos, os judeus atuam no presente como se fossem participantes reais dos momentos históricos experimentados pelos antepassados. Essa nossa característica essencial é explicada por David Gorodovits na introdução do seu recém-lançado "Na Espiral do Tempo - uma viagem pelo calendário judaico" (Editora Sefer). As datas especiais desse calendário contêm uma mensagem "em cujo significado há componentes místicos, históricos e de conteúdo social, além dos aspectos da natureza que os caracterizaram", escreve o autor, que coloca toda a sua erudição a serviço da ampliação dos conhecimentos dos valores universais da religião judaica. Repleto de parábolas, o livro começa com Bereshit e termina com um sonho de paz de Gorodovits, cuja sensibilidade poética se alia à escrita fluida para construir um texto prazeroso.

Para quem não conhece o autor, uma brevíssima informação: ele é engenheiro e baiano, morador do Rio há 50 anos, palestrante e diretor executivo do Centro de História e Cultura Judaica, além de um dos autores da belíssima tradução da Bíblia hebraica e dos Salmos da Sefer.

8.7.08

Yentl, que amava Golda, apóia Obama

É com nostalgia que muita gente lembra de Barbra Streisand, a sempre lembrada Yentl (entre outras personagens), celebrando o 30º aniversário de Israel com Hatikva e uma simplória conversa por telefone (e que tamanho de telefone!) com Golda Meir, como mostra o vídeo ao lado. Sinal dos tempos, a cantora, que anunciou seu apoio a Barack Obama para a presidência dos EUA (ele é apoiado por boa parte dos judeus liberais do país, inclusive celebridades como Steven Spielberg e George Soros), cancelou sua viagem a Israel para a celebração dos 60 anos.

Englander lança no Brasil "O Ministério de Casos Especiais"


A Editora Rocco está lançando no Brasil o "Ministério de Casos Especiais", de Nathan Englander, um livro imperdível. Nova-iorquino nascido em 1970, Englander foi criado em uma comunidade judaica ortodoxa e sua escrita, ao mesmo tempo ágil e profunda, é marcada por esse convívio, que o tornou íntimo do ídiche.

Escolhido pela revista New Yorker como um dos 20 escritores mais promissores do século XXI, ele veio ao Brasil para participar da Flip, em Paraty, e lançar seu livro em português, ótima tradução de Paulo Reis. O romance se passa na Argentina de 1976, onde o personagem principal, Kaddish Poznan, filho de uma prostituta, vive uma relação conturbada com a comunidade judaica. Engrossando a lista dos 30 mil desaparecidos na ditadura do país, Pato, único filho de Kaddish, é um símbolo das perdas (de filhos, cidadania e identidade) pelas quais passaram os judeus argentinos. Em sua busca pelo filho, Kaddish e a mulher mergulham num universo que, ainda que pareça absurdo e kafkiano ao leitor europeu ou americano, nos remete a experiências reais vividas muito recentemente...

3.7.08

Resgate cultural

O National Yiddish Book Center, nos EUA, fundado em 1980 por Aaron Lansky, quando era um estudante de 23 anos, é uma história de sucesso. Com o apoio de 30 mil associados, eles continuam a trabalhar para salvar livros judaicos, e não só em ídiche. Visite o site para ver a história completa e se comova com o vídeo em que Lansky explica como se envolveu com essa "missão resgate" incrível; o site é em inglês, traz muita coisa em ídiche e merece a visita http://www.yiddishbookcenter.org/