Test
Museublog . arte. cultura. judaísmo
26.5.15
18.3.11
PAUSA
1.3.11
A Formação e a Convivência Multiétnicas no Brasil e o Mito de sua Cordialidade
Reproduzimos abaixo uma das muitas conferêcias em que Moacyr Scliar fala, com a generosidade de sempre, sobre tudo o que o movia como homem, brasileiro, judeu e humanista
SEMINÁRIO CULTURA E INTOLERÂNCIA
28.2.11
Colegas da literatura e de ZH relembram convivência e homenageiam Moacyr Scliar
"Estou muito triste com as mortes do Scliar e do Benedito Nunes (filósofo e escritor paraense, também morto neste domingo). Perdi dois grandes amigos em um dia. Eu os via pouco, via mais o Scliar. Participamos de alguns eventos literários juntos. O primeiro deles foi em Zurique, na década de 90: um encontro de escritores brasileiros na Suíça. Desde então, a gente, de vez em quando, se encontrava em eventos literários. Ele participava muito mais do que eu, tinha essa paixão pelo público, estava em todas. Eu brincava dizendo que era preguiçoso e não gostava de viajar tanto.
Ele transitou por todos os gêneros, foi escritor de uma obra multifacetada, importante para a literatura brasileira. Gosto dos contos dele, que às vezes têm até mais força do que os romances. Foi um jornalista cultural e um cronista exemplar. Eu o admirava muito.
Sempre foi uma pessoa muito generosa com os escritores. Nesse mundinho da literatura, há muita vaidade, uma vaidade doentia, como talvez exista em todas as profissões. O Scliar estava acima disso. Quem é generoso não precisa ficar se afirmando.
Não achava que ele iria embora agora, sinceramente. Achava que iria se recuperar. Foi uma grande perda. A morte é sempre um escândalo."
Milton Hatoum, escritor amazonense, autor de Dois Irmãos e Cinzas do Norte
"Ele fez a orelha do meu terceiro livro, Anotações Durante o Incêndio (lançado em 2000). Não me conhecia, não sabia quem eu era. Leu e, em três dias, estava pronto, por pura generosidade. Depois descobri que ele era generoso para tudo, sempre disponível.
Quando eu era diretora do Instituto Estadual do Livro (IEL), se faltasse um autor para atender a uma escola lá num cafundó qualquer, ele ia, não importava onde. Era um entusiasta da literatura, um amante da vida. Muito grato ao Brasil, ao Rio Grande do Sul — foram esse país e esse Estado que acolheram a gente dele, a nossa gente. Ele se sentia profundamente gaúcho. Era sinceramente gaúcho e sinceramente judeu, embora não fosse reliogioso.
Perdemos um homem maravilhoso, um ser humano do mais alto quilate, um diamante. A gente perdeu um homem bom, um cara honesto, reto, digno, um pai maravilhoso."
Cíntia Moscovich, escritora gaúcha, autora de Duas Iguais e Por que Sou Gorda, Mamãe?
"Convivi com o Moacyr em dois locais diferentes. Em ambos, usava suas inquietas mãos. Na Redação de Zero Hora, onde transportava para o computador sua consagrada obra literária, que o levou à Academia Brasileira de Letras e a prêmios nacionais e internacionais. O outro local foi o ginásio de esportes da Associação Cristã de Moços (ACM), onde deixou uma obra que também o imortalizou. Tal como no livro O Exército de Um Homem Só, brindava todos os anos a nós, atletas de basquete da turma do meio-dia, com uma única cesta de três pontos — o que nos levou a chamá-lo de 'O Homem de uma Cesta Só'. Como essa façanha acontecia nos finais de ano, após quase uma centena de tentativas — número semelhante ao total de livros de sua admirável obra —, foi cognominada de 'A Cesta de Natal', sendo que esses primeiros três pontos estão 'imortalizados' nos dizeres pintados no piso da quadra, descrevendo o certeiro arremesso no local do inédito acontecimento, com tinta indelével para que, mesmo na ausência, lembremos para sempre a sua festejada Cesta de Natal."
Marco Aurélio Carvalho, chargista de Zero Hora
"Era um dos escritores mais queridos da literatura brasileira. Não só por causa da obra, cuja importância é indiscutível, mas também pela generosidade com que sempre tratou colegas, leitores, editores, jornalistas."
Michel Laub, escritor gaúcho, autor de O Segundo Tempo
"Gostava muito do Scliar. A leitura de O Centauro no Jardim foi um impacto para mim. O livro me marcou profundamente como um novo caminho para a literatura brasileira. Daí para a frente, fui acompanhando todos os seus livros. A Majestade do Xingu é um romance perfeito. Acabei de ler Eu vos Abraço, Milhões. A fase final dele, bíblica, eu achava muito interessante. Ele internacionalizou a literatura brasileira. Era um herdeiro do estilo do grande narrador, do contador de histórias, que ele foi mais do que ninguém.
Costumava encontrá-lo em feiras de livro. A última vez foi em Ribeirão Preto, em agosto. Era sempre uma pessoa extremamente acessível, gentil. Um tempo antes, nos vimos em um hotel no Rio, onde estávamos hospedados para um evento. Tomamos café da manhã juntos. Ele olhou para o meu prato e disse: 'Bá, tchê, que frugal que tu és' (risos). Como médico, achou a minha alimentação ótima, deu nota 10. Anos atrás, éramos ambos jurados do prêmio Portugal Telecom de Literatura. Um dia, brincou: 'Agora vou me alimentar. Eu nem sei por que vou comer, já que eu sou imortal'. Só tenho doces lembranças dele."
Cristovão Tezza, escritor catarinense radicado no Paraná, autor do multipremiado O Filho Eterno
"De todas as lembranças que Scliar nos deixa, a mais forte é a da sua capacidade incomparável de trabalho. Se o editor de qualquer área precisasse de um texto de qualidade para apoiar uma matéria sobre os mais diversos assuntos recorria a ele, a sua lucidez de analista e a seu conhecimento enciclopédico. Não tenho notícia de que alguma vez tenha dito não. As duas perguntas que fazia eram sempre as mesmas: em quanto tempo precisava entregar a tarefa e qual era o tamanho do texto.
Não é de se estranhar, pois, que nesses anos todos de ZH ele tenha sido presença regular no Segundo Caderno, na Opinião e no Vida e colaborador bissexto na Política, na Geral e no Mundo, além de dar palpites sobre basquete, o esporte que praticava, e o Cruzeiro, seu time do coração.
Nós aqui vamos sentir saudade do Scliar. Ainda não nos acostumamos com a ausência dele neste início de 2011. Como é período de férias, uns chegam, outros saem e a gente tem a impressão de que em março nos reencontraremos todos. Antes que março chegasse, o cavalheiro Scliar nos deixou no início desta madrugada. A redação de ZH está mais pobre."
Rosane de Oliveira, editora de Política e colunista de Zero Hora
14.1.11
Destruição, ontem e hoje
Aprendendo Judaísmo a partir de Giffords
(Editorial JPost. 10/01/2011, tradução de Miriam Halfim)
A despeito de nosso desejo por uma definição universalmente aceita, não se pode ignorar uma realidade: muitos não judeus são mais judeus do que nossos patrícios judeus.
Enquanto nos juntamos em preces pelo rápido e completo restabelecimento da deputada Gabrielle Giffords, não se pode deixar de observar quão magnificamente a Congressista Democrática do Arizona serviu – e, temos fé, continuará a servir – como modelo de desempenho judaico.
Foi seu “sentido dos valores judaicos sobre o modo como tratamos o estrangeiro” que deu a Giffords a compreensão a respeito da profundamente dividida questão dos direitos dos imigrantes ilegais em seu Estado vizinho, segundo Josh Protas, ex-diretor do Conselho de Relações da Comunidade Judaica de Tusconarea. Ao mesmo tempo, ela não perdeu de vista as preocupações de seus colegas Constituintes quanto à segurança diante da afluência desordenada de estrangeiros ilegais.
Talvez as coisas de devam ao seu conhecimento dos desafios da defesa de Israel. Como deputada do 8º Distrito no sul do Arizona, Giffords teve de lidar com as disparatadas opiniões políticas da liberal Tucson e de suas terras rurais. A estratégia eminentemente judaica que ela usava visava ouvir opiniões variadas. De fato, foi num desses exercícios de abertura intelectual – durante um de seus projetos “O congresso na sua esquina”, evento realizado na entrada de um shopping em Tucson – que a força de Gifford como atenta jurista foi vilmente explorada, tornando-se, com o puxar de um gatilho, em sua trágica vulnerabilidade.
O próprio judaísmo de Gifford pode ter sido um motivo para o atentado, segundo um memorando do Departamento Americano para Segurança da Pátria. Jared Loughner é tido como alguém que manteve vínculos com a Renascença Americana, uma organização anti-governo, anti-imigração, anti-sionista e Anti-Semita. O memorando observa que Giffords é a primeira mulher judia eleita para um alto posto no Arizona e que o alegado anti-semitismo de Loughner tem sido considerado um possível motivo.
Em termos judaicos estritos, Giffords nem mesmo é considerada judia. Seu pai é judeu, mas sua mãe é uma cientista cristã.
Sua genealogia não a impediu de dizer, em 2006, “Em minha família, se você quer ver algo realizado, encarregue do assunto as parentes judias. Mulheres judias, de modo geral, sabem como concretizar as coisas.”
Segundo a Associação Judaica de Tuscoranea, seu avô, Akiba Hornstein, mudou seu nome para Giffords após mudar-se de Nova York para o Arizona “em parte porque não queria que seu judaísmo se tornasse um problema num território desconhecido”. Talvez o visceral instinto de sobrevivência de seu avô tivesse alvo certo. O atentado certamente levanta preocupações sobre um anti-semitismo renovado (e sobre a natureza altamente polarizada do discurso político na América de hoje).
Porém o ataque, que enfatizou os nobres e muito judaicos traços pessoais de Giffords, também lança luzes sobre a mudança na natureza da identidade judaica na América. Uma resposta cada vez mais inclusiva para a pergunta “Quem é judeu?” surgiu nos últimos anos. Em parte, como resultado da decisão de 1983 do Movimento Reformista de reconhecer a descendência paterna, em vez de apenas a materna. Essa decisão, que reconhece Giffords como uma judia completa, facilitou a integração da Congressista com sua sinagoga Reformista local, a Congregação Chaverim (Companheiros), quando ela começou a abraçar o Judaísmo ativamente, após uma transformadora viagem a Israel em 2001.
Mas a ampliação da definição de Judaísmo não se restringe ao Movimento Reformista. Uma tendência similar está varrendo o Judaísmo conservador, como o Dr. Adam Ferziger, Antigo Membro do Centro Rappaport de Pesquisa sobre Assimilação da Universidade Bar-Ilan observou em um recente artigo no jornal de Estudos Judaicos de Oxford. Em “Entre Israel Católica e Israel K’rov (amigos de Israel): Não judeus nas Sinagogas Conservadoras (1982-2009), Ferziger mostrou que nos termos estritos judaicos (judeu pela linha materna) a prole não judia de casamentos mistos não era mais excluída como membro ou da vida ritual ativa nas Congregações Conservadoras Americanas. Tal mudança de política deve-se, em parte, às taxas sem precedentes de casamentos mistos ocorridos nas últimas décadas do século XX. Uma outra possível razão pode ser que mais e mais pessoas como Giffords tenham feito uma escolha consciente de se identificar como judeus, sem entretanto terem a intenção de se converterem.
Como era de se esperar, a Lei do Retorno de Israel acomoda esta complexa realidade judaica ao garantir cidadania automática a pessoas como Giffords, seu marido e sua prole. Críticos da Lei do Retorno poderiam reclamar que ela estendeu cidadania a mais de 300000 ex-imigrantes da antiga União Soviética que não são judeus no sentido estrito. Mas pode ser aceito que se exclua estes “não-judeus” apesar do fato de que a vasta maioria está totalmente integrada na sociedade israeli, serve ao Exército do país e se torna cidadão produtivo? É possível excluir Giffords, outra “não judia” que é tão conscientemente judia?
Com todo o nosso desejo de uma definição universalmente aceita sobre “Quem é judeu?” que possa unificar o povo judeu, não podemos ignorar a complicada realidade: muitos “Não-judeus” são muito mais judeus do que seus companheiros “judeus”. A Congressista Giffords é uma delas
11.12.10
LOGOCAUSTO, poema de Leandro Sarmatz
Uma língua de mortos. Idioma anti-segredo, a sibilar no espelho
seu eco de cova no indo-europeu ainda.
Todas aquelas bocas costuradas, milhões de bocas e mais nenhuma.
Onde haverá céu para suportar tantas vozes elevadas?
Onde encontrar a malícia, aquela impertinência duradoura?
(Luz do leste reprojetada em tumbas: sintaxe que se sente
em casa. Expulsa
e vai: expulsa.)
Palavras não são coisas nem pessoas.
São um nada, uma piada, uma praga, um lamento surdo
um exílio.
E essa morte infinita, multiplicada,
boca contra boca ouvido contra ouvido
boca e olvido — verme, terra e vernáculo.
Vozes submersas: e eu petrificado, gaguejando minha mudez-cimento.
Uma calma forjada: porque se eu soubesse conversar com as sombras,
se eu mastigasse as palavras, e delas um suco que não fosse áspero escorresse abrindo os diques da memória,
irrigando os rios-palavras,
fertilizando campos do idioma —
aí sim: eu estaria mais só do que já estou.
[Logocausto, Leandro Sarmatz. Editora da Casa, 2009]
Há muitas noites na noite de Tendler e Gullar
A videoinstalação Há muitas noites na noite, do cineasta Silvio Tendler, em cartaz no Oi Futuro de Ipanema, foi prorrogada até 30 de janeiro de 2011. O projeto é uma homenagem ao Poema sujo, a polêmica obra do premiado escritor e ensaísta Ferreira Gullar, um dos fundadores do neoconcretismo, que completou 80 anos no último dia 10 de setembro.
Neste ano, em comemoração aos 80 anos, Gullar lançou um novo livro de poemas, Em alguma parte alguma, depois de 11 anos desde a edição de Muitas vozes, em 1999, pela editora José Olympio. Além disso, publicou Zoologia bizarra, um livro com suas colagens a ser lançado pela Casa da Palavra.
1.12.10
Para Sempre Perlman
Segue abaixo a belissima cronica de meu amigo Clóvis Marques (http://opiniaoenoticia.com.br/cultura), um monumento no jornailsmo musical de nosso pais. Obrigado, Clóvis - os amantes da musica desta cidade agradecem !!!
Para sempre Perlman
Perlman dá a impressão de um espírito alerta, o que se traduz no brilho do olhar e no sorriso matreiro. Por Clóvis Marques
Os pianistas, comentou meu interlocutor, evocando um concerto do velho Emil Gilels, avançam mais impolutos no tempo. Mas nem sempre: de minha parte, lembro do recital de um Claudio Arrau octogenário que me deixou perplexo com a mistura de soberana musicalidade, imperial convicção e fragilidade física…
Mas Perlman está com 65 apenas. Além da cabeleira prateada, sua figura não tem mais, é verdade, a robustez de outros tempos – ou da última vinda ao Brasil, em 1998. Ele está mais magro e parece um homem de idade. Quando se dirige ao público, contudo, a voz é o mesmo baixo ressoante que lhe rendeu participação especial no papel do carcereiro na gravação da Tosca de Puccini feita em 1981 por James Levine, com Scotto e Domingo. E Perlman também dá a impressão de um espírito alerta, o que se traduz no brilho do olhar e no sorriso matreiro.
Menuhin se baseava em uma filosofia e uma prática budistas para ambicionar em sua arte o equilíbrio corpo/mente de um arqueiro zen, o que não foi suficiente para eximi-lo das descontinuidades da velhice no trato do violino – nem da acusação de praticar menos do que deveria a partir de certa idade…
Perlman, de sua parte, tem uma concepção integrada da arte musical. Perguntei-lhe certa vez, numa entrevista, se a beleza do som, a adequação estilística, a fidelidade ao compositor ou a liberdade pura e simples é que mais importava ao tocar. "Nunca penso em termos de aspectos diferentes", respondeu ele. "Considero que o mais importante é fazer música, em seu sentido mais profundo. E o violino ajuda, pois vibramos com ele, o instrumento e o músico são uma coisa só."
É a mesma inteireza que constatamos, em seu caso, na fusão inconsútil de técnica e arte, expressão e sentimento, concentração e comunicação. No recital do outro dia, foi mais uma vez especial constatar como a variedade das peças – sonatas de Mozart, Strauss e Debussy – era observada, honrada e engrandecida sem prejuízo das características tão caras desse intérprete generoso e doador.
Tais características mudaram, claro. Talvez a sonoridade dourada e caramelada que o distinguiu sempre já não se projete com uma majestade tão plena e constante (ressalvo que eu estava a uma distância maior que a habitual). Aquilo que há dez ou vinte anos nos parecia vertiginosa insolência da perfeição (sonora, técnica, musical, expressiva, estilística), com o corolário de uma aparente falta de espontaneidade ou até vibração, já não se impõe com o mesmo fulgor. Perlman estaria menos altivo, mais próximo.
Mas a pureza tonal, a sutileza do vibrato e a extensão do legato, a plenitude do canto e a agilidade que se faz íntima com a música estavam lá, maravilhosas na delicadeza quase "neutra" de Mozart, na afirmação varonil dos temas imperiosos e das texturas quase orquestrais de um Strauss ainda juvenil, na linearidade diáfana e inquieta de um Debussy alquebrado pelo sofrimento no fim da vida.
É comum um artista do seu quilate – e mesmo, diria, de sua condição já mítica – ser acompanhado por um profissional de alto coturno que não se alça aos mesmos níveis de transcendência. O próprio Perlman, no entanto, já nos surpreendera aqui, da outra vez, com um pianista – Samuel Sanders, seu acompanhador durante cerca de três décadas – que entrava também com um manancial de individualidade e invenção. Alguns melômanos brasileiros se lembrarão do magnífico artista de pleno direito que foi, acompanhando Teresa Berganza na mesma época, o pianista Juan Antonio Alvarez Parejo.
Desta vez Perlman percorre o mundo (foi também ao Chile, seguindo para Japão e Coreia, depois de ter solado na abertura da temporada da Filarmônica de Nova York) com o pianista Rohan de Silva, originário de Sri Lanka, que pode não ter esbanjado sutileza (sobretudo no Mozart, quando ambos ainda estavam esquentando), mas não negou fogo no constante jogo do toma-lá-dá-cá com o parceiro.
Para encerrar o recital, um rosário de extras e bombons que vale, aqui, enumerar: uma Siciliana e rigaudon de Fritz Kreisler parodiando estilos antigos; a miniatura Ao pé da fogueira, do mineiro Flausino Vale (1894-1954); um tema da trilha do filme A lista de Schindler, composta por John Williams e consagrada por Perlman; um Caprice de Wieniavsky; o Tango de Albenis adaptado por Kreisler; a Dança húngara nº 1 de Brahms transcrita por Joseph Joachim e, para não deixar de terminar com todos os fogos de artifício, a Ronde des lutins de Basini.
E todos foram para casa felizes (Clóvis Marques - nov 2010)
***
Alguns grandes momentos de Itzhak Perlman (nascido em Tel-Aviv, Israel 1945), recomendados por Gottlieb:
Pablo Sarasate: "Zigeunerwiesen":
http://www.youtube.com/watch?v=wEmbFSiJzEQ
John Williams: "A Lista de Schindler" - motivo principal:
http://www.youtube.com/watch?v=ueWVV_GnRIA
Tchaikovsky: Valse Scherzo Op.23:
http://www.youtube.com/watch?v=8La4ix318GE
Bach: Partita No. 3 em mi menor - Gavotte - aos 13 anos, trecho de um filme de Christopher Nuppen:
http://www.youtube.com/watch?v=DNo6AD9z1WQ
9. Halvorsen: Passacaglia sobre um tema de Haydn - com Pinchas Zukerman
http://www.youtube.com/watch?v=pAKA3rLENGU
Tocando Musica Klezmer:
http://www.youtube.com/watch?v=DkmFgQ9fM94&feature=related
Gardel: Por una Cabeza:
Perlman (com John Williams regendo): http://www.youtube.com/watch?v=kigoRVhyaf4&feature=related
Filme - "Perfume de Mulher" (1992): http://www.youtube.com/watch?v=dBHhSVJ_S6A&feature=related
Antonio Vivaldi: Concerto em re maior para 2 violinos - com Isaac Stern:
http://www.youtube.com/watch?v=76RnSbRyUqA
Para finalizar - "algumas coisas são fáceis para voce e dificeis para mim..." - MARAVILHOSO:
http://www.youtube.com/watch?v=z3richcoCUI&feature=related
25.11.10
Ahmadinejad não disse o que disse!
23.11.10
Noel Rosa e o judeu da prestação
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Ronaldo Wrobel fala sobre literatura, a propósito do lançamento do livro "Traduzindo Hannah"
1- Este é o seu segundo romance. Tanto Traduzindo Hannah como Propósitos do acaso tinham algum pano de fundo histórico por trás. Seria essa a marca da sua literatura, a dependência de algum contexto histórico?
1. Não me considero dependente de contextos históricos, pois também escrevo contos contemporâneos, mas a verdade é que os meus dois romances têm apelo histórico. Talvez isso aconteça porque cresci ouvindo histórias de tios e avós europeus, fugidos do comunismo e do nazismo. Eram histórias épicas, cheias de dramas e esperanças, com cenários incríveis e até trilhas sonoras. Esse clima impregnou minha vida. Dizem que sou um bom contador de histórias, capaz de transformar um relato qualquer numa saga bíblica. Devo isso aos meus parentes, sem dúvida. Adoro romances históricos e, por sinal, estou lendo Equador, de Miguel de Sousa Tavares, uma excelente recriação de época.
2 - A sua família é judia e você já publicou um livro sobre manifestações festivas dos judeus. Que tipo de peso o fato de ser judeu tem para sua literatura?
2. Judeus adoram contar e ouvir histórias, anedotas, sagas, citações. As cerimônias religiosas têm sempre alguma história, que é a parte mais interessante dos ritos. O próprio judaísmo começou com a tradição oral, aquilo que o marketing chama de propaganda boca a boca. “Traduzindo Hannah” é cheio de parábolas judaicas, algumas tradicionais. Uma das parábolas foi contada por uma senhora judia, dona de uma mercearia perto da minha casa, a propósito de uma fofoca contra sua filha. Judeus costumam ter histórias na ponta da língua, quase sempre com uma lição no final.
Não sou religioso nem fechado em circuitos judaicos, mas o judaísmo é mais do que uma religião, é uma cultura cheia de traços laicos. Basta pensar naquele espírito questionador, naquela densidade emocional mostrada por cineastas como Woody Allen e Mel Brooks. Tenho um amigo judeu que é ateu convicto, mas esbanja judaísmo ao falar que Deus não existe. Como? Questão de estilo. Judaísmo não é só o que se diz, mas como se diz.
3 - Ainda dentro desse território, seria possível pensar na existência de uma literatura judaica, ou você não gosta desses rótulos?
3. Acho difícil falar-se em literatura judaica porque o judaísmo é plural e existem escritores judeus totalmente diferentes uns dos outros. Além do mais, ninguém sabe demarcar as fronteiras entre o judaísmo e outras culturas. O povo judeu vive de assimilar e difundir saberes mundo afora. O que é a literatura judaica? Aquela que fala dos judeus? E o estilo, a estrutura do texto, existe alguma forma judaica de escrever? Acho que não. Percebo, isto sim, um núcleo básico do judaísmo que rende ótimas obras de artistas judeus. Os não-judeus tendem a ficar longe desse núcleo, por motivos que merecem uma boa análise.
4 - O tom de Traduzindo Hannah, como o conceito histórico e sua forma de dirigir a trama, parecem isolados dentro da literatura brasileira contemporânea. Ainda dentro desse raciocínio, você não mantém blog ou twitter ou qualquer outra estratégia de comunicação. Você se sente isolado de alguma forma?
4. Não sei se Traduzindo Hannah tem uma estrutura isolada na literatura brasileira. Será? Deixo a resposta para os leitores. Procurei ser autêntico, não diferente ou inovador. E os trabalhos verdadeiramente autênticos podem ser, inclusive, convencionais. Fiz cursos de roteiro para cinema e talvez por isso alguns leitores digam que meus livros são imagéticos, chegando a lembrar das histórias como se fossem filmes. Mas minha matéria prima é a palavra, não a imagem. E muito do que eu escrevo não caberia na linguagem audiovisual, como as reflexões que às vezes ocupam páginas inteiras de "Traduzindo Hannah".
Quanto aos blogs e twitters, preciso aprender a lidar com essas coisas. Não adianta querer me isolar num mundo onde o marketing pessoal dita as regras. As pessoas ficam se apregoando na internet, feito camelôs de si mesmas, contando intimidades, inventando novidades. Não é bem o meu perfil. Para que saber o que eu comi ontem à noite ou qual livro andei lendo nas férias? O que eu tiver que dizer, direi através de meus livros. Gosto muito de dar entrevistas e palestras, mas não me sinto um formador de opinião nem tenho ideias interessantes sobre tudo. Meu trabalho de escritor envolve mais suor e disciplina do que glamour. Além do mais, dá muito trabalho manter um blog, até um perfil no Facebook. E falta tempo porque também sou advogado e prefiro usar as horas livres para ler e criar o próximo livro, o que exige silêncio e pesquisa. Mas tenho pensado no assunto com carinho.
5 - Você já publicou por inúmeras editoras em sua carreira. É difícil para um autor em ascensão se fixar no cenário literário brasileiro?
5. Sim, é muito difícil. O Brasil tem milhões de artistas talentosos sem qualquer projeção. Mas não dá para apontar culpados numa realidade tão complexa. Estive numa editora que recebe cerca de cinco mil originais por mês! Como selecionar, separar o joio do trigo? Impossível. O lado bom é que a internet facilitou o contato entre artistas e público. Na literatura isso é mais verdadeiro porque a internet é um veículo perfeito para a palavra escrita, o que não acontece com as artes plásticas, com o teatro ou com a música. Oficinas literárias e grupos de leitura estão pipocando por aí, no mundo real ou virtual.
Outra coisa, com o perdão do óbvio: não existe um único cenário literário brasileiro. O país é uma colcha de retalhos. Há autores regionais ou temáticos com ótima projeção nas suas áreas. Acho que o melhor caminho para o escritor estreante é procurar seu nicho e conquistar cada leitor como se fosse o único. O leitor bem impressionado vai recomendar seu trabalho, lembrar de você, cobrar novidades, apontar seus defeitos e suas qualidades, pegá-lo pelo pescoço e gritar: por que você matou fulana??, o que aconteceu com beltrano?? Ouvir uma coisa dessas é a delícia do escritor. Justifica cada letra que você escreveu.
22.11.10
SAMUEL BENCHIMOL: UM POUCO-ANTES, ALÉM-DEPOIS - por José Ribamar Bessa Freire
As exceções certamente seriam duas, se o cronista tivesse conhecido Samuel Benchimol, nascido ali, na rua Quintino Bocaiúva, em Manaus, no dia 13 de julho de 1923. Paraense por parte do pai, Isaac, cujo berço foi o barranco do rio Tapajós, e amazonense por parte da mãe, Nina, nascida em Tefé, esse canceriano honrou sua dupla identidade amazônica. Mas, apesar disso, continuou sendo um inglês legítimo, porque sóbrio, discreto, elegante, transpirando serenidade, polidez, delicadeza. Enfim, um lorde, de fino trato, com o seu "perfil de medalha, de moeda".
Nos 200 anos da comemoração do judaísmo amazônico, vale a pena ler a íntegra deste artigo sobre o professor Samuel Benchimol no site http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=308 O artigo foi publicado pela primeira vez em 08/07/2002 no Diário do Amazonas.
8.11.10
Pintor revisitado
Mulheres no Muro
As autoridades religiosas que controlam o Muro não querem que haja ali orações feitas por grupos mistos, cerimônias de Bat Mitzvah e cerimônias nacionais. Agora, mais de 400 rabinos de vários países assinaram uma petição exigindo que a polícia de Jerusalém proteja as mulheres que querem rezar e ler a Tora juntas no local. A mulher presa ano passado é membro do grupo Women of the Wall [Mulheres do Muro], que defende os direitos das mulheres usarem xales de orações e lerem a Tora ali.
“As Mulheres do Muro são bem-vindas, como toda mulher judia, ao Muro”, disse o rabino-chefe do Kotel, Shmuel Rabinovich, ao jornal Jerusalem Post. “É proibido que qualquer pessoa as machuque, a violência é totalmente proibida no Muro. Mas eu peço que elas se comportem de acordo com os costumes da área e que não insultem a sensibilidade das outras pessoas que estão rezando”.
Já a organizadora da carta, a rabina Pámela Frydman, de Los Angeles, disse o seguinte:
“É muito importante que sempre haja um lugar para que os homens e mulheres haredim fiquem confortáveis e de acordo com seu entendimento do que é a Halachá. Mas é igualmente importante para aqueles de nós que são ortodoxos modernos, conservadores, reformistas, reconstrucionistas e renovadores, que tenhamos um lugar onde possamos rezar de acordo com o nosso entendimento”.
6.11.10
Mulher rabina na Alemanha, primeira desde o Holocausto
Pela primeira vez em 75 anos, uma mulher foi ordenada rabina nesta quinta-feira na Alemanha, marcando a retomada de uma comunidade judaica devastada pelo Holocausto. Alina Treiger, 31 anos, originária da Ucrânia, tornou-se rabina durante cerimônia emocionante em uma sinagoga do oeste de Berlim, que contou com a presença do presidente, Christian Wulff. Ela é a segunda mulher ordenada na Alemanha. A primeira, também do mundo, tinha sido Regina Jonas, em 1935 - assassinada em Auschwitz em 1944, aos 42 anos.
Com cabelos ondulados loiros escuros e um grande sorriso, Alina era o centro das atenções, mesmo que outros dois estudantes rabinos estivessem sendo ordenados ao mesmo tempo. "Enchamos nossos corações de amor. Estejamos unidos no amor pelo Bem e pela vontade de impedir a violência e o conflito", disse durante uma "oração para a Alemanha" pronunciada ao término da ordenação.
No fim de novembro, Alina Treiger deve assumir a direção da comunidade da cidade de Oldenburg, próxima à Holanda. Ela afirma encarnar "a união de três culturas: judaica, alemã e a da antiga União Soviética". Nascida em Poltava, cidade de 300 mil habitantes que hoje pertence à Ucrânia, Alina Treiger estudou no colégio Abraham Geiger de Postdam, próximo a Berlim. Criado em 1999, foi o primeiro seminário rabínico da Europa continental desde o Holocausto.
Após a queda do Muro de Berlim, a Alemanha abriu suas portas para os judeus do antigo império soviético, vítimas de um forte antissemitismo, fornecendo a eles a nacionalidade alemã. "Na Ucrânia, a religião era esquecida pela metade", contou Alina Treiber.
Desde 1989, cerca de 220 mil judeus da extinta URSS chegaram à Alemanha, que contabilizava, na época, 30 mil judeus, contra cerca de 600 mil antes de Adolf Hitler chegar ao poder em 1933. Uma boa parte deles partiu, principalmente para Israel. As comunidades judaicas na Alemanha contam hoje com 110 mil membros, quatro vezes mais do que há 20 anos, segundo o Conselho Central de Judeus da Alemanha.
Essa migração em massa permitiu em algumas regiões, principalmente da ex-República Democrática Alemã, a recriação das comunidades aniquiladas pelo Holocausto. Em Berlim, a comunidade judaica conta 11 mil membros, dois terços derivados da então URSS. No entanto, a integração desses judeus levanta problemas e suscita conflitos. Alguns judeus alemães os acusam de serem "desjudaizados". A chegada desses refugiados teve fim no dia 31 de dezembro de 2004, quando a Alemanha impôs restrições à migração deles.
A ordenação, chamada semikha, é acessível às mulheres unicamente no judaísmo liberal. As raras mulheres rabinos estudaram, em sua maioria, nos Estados Unidos. "É um dia extraordinário!", entusiasmou-se o rabino Daniel Freelander, vice-presidente da União do Judaísmo Progressista da América do Norte. As primeiras ordenações de rabinos na Alemanha depois do Holocausto ocorreram em 2006.